Archive for 2013

Tango


I hugged him and listened to all his laments, my delay in seeing him, the fear of abandonment and being alone in a big city. All this dripped down his eyes. Looking from afar, we seemed like two young guys (aren’t we!?), in love but inaccurate. We braced ourselves, I felt his sweet coziness and the protection of his arms, his tender voice that danced through my ears among so many insipid others.

So we went on, playing pretend. His complaints, my advances, his retreats, my fondling. A complex dance between two distinct elements, his and mine. Air and fire intercrossing in movements, sometimes calm, sometimes turbulent - but invariably gracious. Our movements were spontaneous and came from deep our souls and cells, from generations and millennia of coadaptations and conjunctions, from somewhere heavenly and astrological, from the cosmos that we are. An elemental Tango.

Image by Esther Wagner

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Tango


            Abracei-lhe e ouvi seus lamentos, a demora, o medo de ter-lhe abandonado e de estar só numa cidade grande que lhe escorreu pelos olhos. Vendo de longe, parecíamos dois jovens (e não somos?!) apaixonados e imprecisos. Apertamo-nos e pude sentir o doce aconchego e a segurança dos seus braços, da voz manhosa que escorria pelos meus ouvidos entre aquelas outras, insípidas.

            Assim seguimos, num pequeno jogo forjado. Suas reclamações, meus avanços, seus recuos, minhas carícias. Uma dança complexa entre elementos tão distintos, o meu e o dele. Ar e fogo que se entrecruzavam em movimentos ora calmos, ora tempestuosos – mas invariavelmente belos. Os movimentos eram espontâneos e vinham de dentro das células e da alma, de gerações e milênios de coadaptações e conjunções, de algum lugar celeste e astrológico, do cosmos que somos. Um tango elemental.


Imagem por Kirana.

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Torna-te parte do Rio


Apresento para vocês um trecho do conto Torna-te parte do Rio, publicado também na antologia Dimensões.BR - Volume II (Editora Andross) no primeiro semestre de 2012. O conto retrata a relação singular de uma mulher com o rio de sua pequena cidade do interior, tudo dentro de um contexto fantástico. Reitero a importância do organizador desta antologia, Fernando Heinrich, em tornar o livro e os contos mais dinâmicos, deixando-os mais vívidos. Livros podem ser encomendados pela Editora Andross. Caso algum blogueiro se interesse em resenhar o livro ou algum amigo queira ler o conto na íntegra, entre em contato comigo. Espero que achem o conto (ao menos o trecho mostrado) bacana.

É como se todo o meu corpo estivesse se transformando em água, e agora a transformação alcança meus antebraços e pernas.
Por fim entendo o que está acontecendo.
- Aceitei ficar ao teu lado, como soberana - digo. - Agora preciso me tornar parte deste rio. - E desapareço por entre tuas águas.
Agora mais do que parte, eu sou o Rio.

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É como se fossem vidas muito distantes, e agora que estou aqui não sei como deveria me sentir, e me sinto terrível por não ter dado um abraço apertado – mas bem mais do que abraços e gestos, ter sentido aquela torrente de emoção que era esperada. Sou um androide, um produto da cidade grande, sem coração sem emoção; poderiam até me dar um número de série, junto daqueles outros nascidos no começo do ano 90 – que se enfurecem por não ganhar e olham com indiferença a dor alheia.

Sou um monstro da nova era. Faço tudo como me foi mandado – como, bebo, fodo, sorrio, click! Produzido numa linha de montagem, peça aqui e acolá, placa de processamento das melhores qualidades, espaço em disco ávido por ser preenchido, drivers de vídeo e som importados; faltou algo.

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O outro lado da queda


[um raio lhe atingiu o peito]
            Nunca soube como aconteceu. Mas isso não era importante, ao menos não mais. Talvez viesse a ser um dia, entre os dias vindouros, eternamente iguais; ou quem sabe naqueles que se situam além do véu que separa esta vida daquela outra. Claro que já imaginara que seria assim, desde a sua inconsequente juventude e muito antes que o caos se instalasse no seu peito, fruto da tristeza inenarrável que Azkabam e seus terrores lhe impuseram. Mas quando finalmente conseguira escapar do inferno de Dante na Terra, já não conseguia e nem queria pensar no que viria adiante. Respirar a liberdade novamente trouxe à tona uma sede gigantesca, e suas vontades haviam se tornado ainda mais primevas e cruéis, como nunca tivera antes.
[o ar procurava caminho aos pulmões]
Se a prisão lhe dera um novo significado para a vida, fora simplesmente a sensação de liberdade despreocupada, gestos abruptos ao reagir ao mundo, até violentos. Talvez carregasse a semente da loucura desde menina, desta vida desregrada, vontade vinda de sei lá onde. Momentos desconexos apareciam em flashes na sua cabeça, tudo numa velocidade incrível: Alice gritando de dor até ferir a garganta, o sangue daquela sangue-ruim escorrendo pegajoso, as vidas que roubara e que lhe trouxeram energia e ânimo, o corpo de Rodolfo sobre o seu, a irmã lhe pedindo para não ir com aquele homem imprestável; e as duas, meninas, girando de mãos dadas, sorrisos lindos pintados em seus rostos, na inocência que é tão própria da infância.
[ira nos olhos do adversário, ou seria pena?]
            Perdeu a força nos músculos. Talvez tenha começado nos braços, mas logo suas pernas já não conseguiam mais sustentar o corpo. Quando deu por si, começava a tombar sobre o chão da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, que lhe acolhera algumas décadas antes e lhe dera sua vida, seu destino. Sua visão também escurecia, afetada pela falta de ar e pela dor excruciante que sentia no peito. Que irônico – depois de tanto causar dores, tanto amargas quanto lancinantes, agora sentia tudo aquilo num único momento, onde todo seu passado convergia num grande clímax, mas não o seu.
[chocou-se no chão]
            Porém não se arrependeu, mesmo sabendo que não terminaria naquele lugar se tivesse seguido outras estradas, outros percursos. Sabia terminar assim, estatelada num chão frio e duro, desprotegida e até desconhecida, esquecida por amigos, família, irmã, pelo seu deus mortal, a quem serviu tão cegamente. Nem pensou como teria sido essa outra vida, que talvez estivesse numa outra dimensão – não ligava para isto. Sabia que tinha vivido exatamente como sempre quis, que agiu como sentia. E que vida poderia esperar além disso? Desta volta aos tempos antigos, de templos e de junção com o instinto? Mas algo inexplicável surgia no seio de si, súbita e rápida semente que florescia, lembranças da irmã, que tanto a amara e protegera, sentimental que era, do mundo que sabia ser perigoso. Bella bem sabe que a irmã agora joga com inteligência e força para proteger a família, e nestes últimos segundos a ama por isso – pela coragem.
[duas meninas girando de mãos dadas]
E foi a imagem da irmã que pairava sobre a cena, como fina camada de névoa, quando, por fim, os olhos de Bellatrix se fecharam pela última vez.
[duas meninas girando, girando
dançando no escuro]
- Gnomos, diabretes, dançando serelepes! – cantavam, cantavam e cantavam, para além da escuridão e da eternidade.

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Só as mulheres e as baratas sobreviverão


Fui à livraria sem intento de comprar nada, pois já estava cheio de livros ocupando a caixa ao lado da cama. Chegando lá, resolvi trazer alguns livros da L&PM Pocket, apenas por costume. Trouxe dois do Caio Fernando Abreu, que já namorava por alguns meses - e decidi experimentar algo novo e nacional, e com o meu gosto estórias de mulheres, decidi experimentar Cláudia Tajes. Suas capas, títulos e sinopses sempre me pareceram extremamente divertidos, e fui em frente. O livro, pequeno e de fácil leitura como é, não durou muito tempo. Gostei bastante do estilo da autora, e pretendo continuar conhecendo mais obras delas (li, ainda, Louca por Homens). Apesar de não ser uma literatura densa e emocional, é divertida e cômica.
Meu assunto, basicamente, são homens, o que faz todo o sentido, no meu caso. Cada um escreve sobre o que gosta ou conhece sejam guerras, sagas, relacionamentos, misticismo, música, opção é o que não falta. Homem é um tema que, longe de dominar, eu aprecio. Quando comecei a construir histórias mais longas que as redações de uma página e cinco parágrafos do vestibular, lá pelos meus vintes e poucos anos, foi sobre homens que eu escrevi. Vocação, fazer o quê?

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Mar Morto


Quando adolescente, sempre mantive uma certa distância da literatura nacional. Lia apenas se e quando necessário, afinal, o vestibular pedia. Com o tempo, e quando eu mesmo comecei a escrever, tentei apreciar mais o que produzimos no passado e presente. Depois de tantos anos, com Caios, Clarices, Andrés, Lobatos, etc., cheguei em Jorge Amado. E estou feliz por ter chegado, mesmo que tenha demorado - mas foi na hora certa, e pela via certa. Mar Morto foi um dos livros mais fantásticos que já li em toda minha vida, e seus personagens são simplesmente surpreendentes. Abaixo está uma cena de Lívia (spoiler), após a morte de seu marido, ou, mais precisamente, a viagem que ele fez para outros mundos com Iemanjá.

- Manuel tem muita carga?
- Não tá dando vazante...
- Depois pergunte a ele se pode me arranjar alguma.
- Quem vai levar o saveiro?
- Eu.
- Você?
Rodolfo não compreende. Quem a compreenderá mesmo? O velho Francisco compreende. E tem raiva de estar tão velho, de não poder ir mais no leme de um barco. Lívia olha o Paquete Voador, e sente um grande amor por ele. Vendê-lo era como vender seu corpo. E eles eram coisas de Guma, ela não podia vendê-los.

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Excalibur


Título: As Crônicas de Artur – Excalibur
Autor: Bernard Cornwell
Editora: Record
Nº de Páginas: 529

            Excalibur é, sobretudo, uma história sobre valores morais e lealdade.
            Quando estudei, por poucos meses, Direito no início de 2008, li capítulos de um livro de introdução às ciências jurídicas. Em meio ao primeiro capítulo, li algo interessante, que era mais ou menos assim: “... o direito é responsável pela mediação das relações humanas, do início ao fim”. Mas, antes que leis e normas estivessem bem estruturadas,  juramentos e valores morais eram responsáveis por tal intercessão em conflitos. E, muito do que ocorre no livro é produto de um embate dos juramentos e necessidades de Artur e de muitos outros homens importantes da época (do mito).
            Incerto se Artur realmente existiu ou se não passa de um mito, Bernard Cornwell constrói uma intrincada trama baseada em alguns fatos históricos plausíveis e documentados, demonstrando amplo conhecimento sobre a história da Inglaterra. O romance de ficção histórica parte da visão do Lorde Derfel Cadarn, um dos únicos sobrevivente da época Arturiana, que agora vive servindo São Sansum e narra a história de Artur para Igraine, mulher de Brochavel.
            Nos dois primeiros livros da trilogia As Crônicas de Artur, Derfel passa de lanceiro para Lorde, e se torna um dos homens mais importantes da Dumnonia, reino de Modred. Em Excalibur, Derfel relata em pormenores o que houve depois da grande traição de Guinevere e caracteriza um Artur humilhado e revoltado com o que tinha acontecido, e extremamente machucado com o que ocorreu no final do segundo livro (O Inimigo de Deus). Ao longo do livro, aparece também o grande conflito de Artur quanto a fazer Mordred, um rapaz dissimulado e maligno, rei. Ao passo que Artur havia feito um juramento para o antigo Grande Rei Uther Pendragon, o garoto se mostra incapaz de governar adequadamente – e a saída que Artur encontra é torná-lo rei, mas ele próprio administrar Dumnonia com outros homens de confiança.
            Aprisionado nesta vida que nunca desejou, pois tudo que desejava era uma vida calma com Guinevere, Artur também precisa enfrentar o rápido avanço do cristianismo e a decadência da antiga religião da Bretanha, o druidismo. Merlin e Nimue (também conhecida como Viviane, a Fada) tentam restaurar os poderes dos deuses antigos num grande ritual, incompleto pelo amor de Merlin à família de Artur. Ao longo dos livros, o autor não deixa claro se a magia provinda dos druidas é real ou não, podendo muitas vezes ter sido apenas truques ou coincidências. Mas, com o passar dos capítulos deste último livro, poderes que deixam a balança pensa para a existência da magia aparecem, dando um ar surreal para o livro. Em muitos casos, no entanto, Merlin deixa claro que seus feitiços são truques, e que precisa que as pessoas acreditem nele. Este cenário real/irreal é absolutamente bem delineado e perspicaz; altamente recomendado para os fãs de literatura fantástica, em especial àqueles que gostam de Harry Potter, Game of Thrones e outras sagas com fantasia.
            Artur não é exatamente contra o druidismo, tampouco contra o cristianismo. Ele apenas quer fazer o melhor para seu povo, independentemente da religião que os indivíduos desejam seguir. Porém, nenhum dos líderes ou do povo o vê assim, e sim como inimigo das religiões. Suas batalhas para proteger as fronteiras dos saxões se tornam ínfimas quando a população passa a enxergar pelo viés religioso. É interessante notar como essa porção – além de muitas outras - do enredo adquire caráter atemporal, já que ainda hoje estamos presos nesse conflito entre religiões (ou falta de), que com toda a certeza não deveria ser o tema central de nossas discussões e movimentações.
            Além do problema religioso no reino, os saxões começam a invadir a fronteira para ampliar seus territórios. Derfel, a princípio desconectado de Artur, tenta encontrá-lo ao norte, mas acaba ficando preso no Monte Baddon pelos saxões. A batalha é bem descrita e, na minha opinião, a melhor de toda a série. Entre tudo o que acontece, algumas ações são particularmente importantes: a tática de Guinevere, que fez Derfel levantar o estandarte da princesa e criou uma relação inexistente entre os dois; o encontro do pai de Derfel (um dos reis saxões) com a família do filho, e sua morte.
            E, quando os saxões são finalmente derrotados e pensamos que tudo vai dar certo na vida de Artur, Guinevere, Derfel e da princesa Ceinwyn, esta última adoece. Derfel descobre que existe uma trama de Nimue por trás, que inconformada com o feitiço falho de Merlin, tenta adquirir todo seu conhecimento e finalizar a magia. Ela, indiferente à antiga amizade de Derfel, trava uma última luta contra o ex-lanceiro em prol do retorno dos deuses da antiga religião. Em meio à fuga desesperada, Derfel cai na armadilha de Mordred para retomar todo o poder em Dumnonia. Cercado por dois exércitos, um de loucos e outro de renegados, Derfel e Artur (além de Sagramor, um dos aliados mais leais dos dois) esgotam suas forças numa última batalha.
            Tendo este complexo enredo, e ótimas descrições de batalhas, Bernard Cornwell apresenta um mundo que já não sabemos se foi ou não real, e confunde um pouco aqueles que possuem a tendência a se perder nos mantos do irreal.

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Excalibur


Um amigo me apresentou a série faz pouco mais de um ano (ou seriam dois?). Este é o volume final d'As Crônicas de Artur, uma trilogia que com toda a certeza recomendo para todo fã de fantasia ou de histórias que se passam na Idade Medieval. Em breve postarei uma pequena resenha do livro!

- Quando eu tinha a sua idade achava que poderia renovar o mundo. Acreditava que todo esse mundo só necessitava de honestidade e gentileza. Acreditava que se tratamos as pessoas bem, que se lhe damos paz e oferecemos justiça elas responderão gratidão. Achava que podia dissolver o mal no bem. - Ele fez uma pausa. - Acho que pensava nas pessoas como se elas fossem cães - prosseguiu, pesaroso -, e que se você lhes dá afeto suficiente elas serão dóceis. Mas elas não são cães, Gwydre, são lobos. Um rei precisa administrar mil ambições, e todas elas pertencem a pessoas falsas. Você será lisonjeado. E zombado pelas costas. Os homens jurarão lealdade imortal numa respiração e tramarão sua morte na próxima. E se você sobreviver às tramas, um dia estará com a barba grisalha como eu, olhará para o passado e verá que não realizou nada. Nada.

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Fantasiando


Título: Fantasiando
Organizador: Sérgio Prado
Autores: Alda Pereira, Alexandre Leão, Ana Maria dos Santos Silva, Andy Azous, Betta Fernades, Bruna Souza Resende, Bruno Eleres, Carla Witch Princess, Carla Dalmolin, Carla Elisio, Cadu Lima Santos, Carlos Henrique Pereira Maia, Christian Lima, Claudio de Albuquerque, Danilo Souza Pelloso, Mayra Maneira, Gian Danton, Ivan Lantyer Neto, Jony Anderson de Oliveira, José Alexandre Fargi Faria, Judith Nogueira, JBAlves, Luana Galindo, Marcelle Acosta, Márcio Roberto Goes, Marcos Alexandre S. de Almeida, Marcos T. Nogueira, Paulo Cilas, Renata Zoppello, Robert Gilgueira Júnior, Rosângela de Moura, Sérgio Prado, Uda Qasim, Werner de Paula
Editora: Regência
Ano: 2012
Número de Páginas: 156

Quando crianças, nós sonhamos. Passamos os dias imaginando como o Papai Noel entra em nossas casas mesmo sem termos lareiras, acreditamos livremente em vampiros, bruxos, deuses, e muito mais. É um período que o mundo onírico faz parte de nosso universo e se encaixa perfeitamente nele, sem muitos questionamentos. Depois desta, temos uma fase onde a fantasia já se torna estranha às regras do mundo, algo que não é possível no mundo real – daí desacreditamos em tudo aquilo que nos contaram e passamos a ver o mundo com os “pés no chão”.
Como uma forma de resgatar nossa capacidade infante de sonhar, acredito que o gênero fantástico surja. Então, quando leio textos supostamente fantásticos que atribuem o que houve de fora do mundano à loucura, sonhos ou imaginação, a atração pelo texto diminui drasticamente. Não é o fato de tentar dar uma ordem à fantasia, e sim dar explicações pouco criativas, como “eu sonhei com tudo isso” ou “estou num hospício, afinal de contas”, dando ao texto assim uma personalidade pouco madura dentro do contexto daquilo que é fantástico, maravilhoso ou extraordinário. Afinal, dar uma explicação plausível ou quase já foi feito inúmeras vezes. E, nem sempre, explicar o que é fantástico deve ser uma preocupação, já que o objetivo central deste gênero é partir deste mundo para outros.
E acredito que seja essa minha principal crítica à antologia Fantasiando, publicada pela editora Regência em 2012, e organizada pelo escritor Sérgio Prado. Vários textos me pareceram pouco desenvolvimentos dentro da Literatura Fantástica, atribuindo explicações pífias para a fantasia. O conto In Vitro e Extracorpóreo (Renata Zoppello), que inicialmente apresenta uma ideia que me pareceu genial para um futuro distópico, mostra ao fim que tudo não se passou de um sonho da personagem. A Possessão (Danilo Souza Pelloso) apresenta uma narrativa bem escrita e ainda melhor estruturada do que uma jovem possuída pelo demônio sente (possessão em primeira pessoa, que interessante!), e fecha o conto com a personagem sendo louca – uma coisa é sugerir que seja loucura, e deixar no ar a dúvida, outra é falar abertamente. Alexandre Leão, em Visões que Matam, desenvolveu um suspense instigante, e entrega seu protagonista para um hospício nas últimas linhas do conto.
Se por um lado as explicações mais simples para o que é fantástico me pareceu erroneamente aplicada à proposta do livro, o título Fantasiando também traz outro sentido, que não propriamente o que sugeri. Fantasiar denota o ato de imaginar, e dois contos se destacam por fazerem esse apelo em prol de mantermos a capacidade de sonhar. Betta Fernandes (O Mundo Imaginário do Leo) tece com habilidade e muito dinamismo, utilizando-se muito bem de pontuações, a imaginação de um menino; e Rosângela de Moura (A Janela e a Chuva) retrata as lembranças de um adulto sobre como era sonhar, num texto calmo e agradável.
Movendo-se de como as crianças imaginam para o quê, o livro apresenta dois contos que me pareceram infantis, daquelas que poderíamos sentar em frente a crianças de 5 ou 6 anos e ler sem problemas – e fazê-las querer um pouco mais. Luana Fernandes (Bella, a Fada Madrinha) teve uma narrativa simples e delicada, deliciosa de ler do início ao fim, mesmo com os fatos negativos que Bella presencia. Em A Pequena e Desastrada Susan (Andy Azous), uma fada tem vários problemas em realizar suas tarefas como fada da terra, mas, por fim, consegue fazer uma belíssima criação – e o pequenino conto é repleto de uma atmosfera leve. Um terceiro conto, que acho que poderia agradar um público predominantemente feminino de 10-14 anos, é o de Marcelle Acosta (Confiando no Cara Errado). Nele, a jovem autora mostra, num background fantasioso, os desejos e angústias de uma adolescente. Apesar de a leitura não ter sido ao meu gosto, o conto foi bem estruturado para uma menina de sua idade e bom para um estilo chicklit/fantasia – mas mostrou em demasia do que claramente suas referências literárias, como Harry Potter e Crepúsculo (e House of Night, talvez?).
Outro problema que me pareceu comum aos contos do livro, e na minha opinião demonstra um pouco da imaturidade na literatura de ficção, é a inserção à força de um cunho moral – que não seja necessariamente parte da ação. Quero dizer, não é formatar o enredo para caber análises filosóficas ou sociológicas, e fazê-lo de forma descarada e dizer tudo que quer dizer diretamente. Para mim, isso na maior parte das vezes descaracteriza um pouco a fantasia na qual estamos inseridos, e é desnecessário e pouco empolgante. Este problema se repetiu três vezes pelo livro:
Em Tnias Niamreg, de Marcos de Almeida, o autor torna mulheres em floresta, num contexto um tanto quanto confuso. Além disso, um dos personagens fica explicando insistentemente que mulheres nunca deixarão de ser flores e conta a história de seu planeta e etc. Acho que este foi um dos contos que menos me agradou do livro, por essa sua características extremamente explicativa e com pouco foco em ações ou pensamentos menos “moralistas”.
Carla Dalmolin desliza e cai no mesmo erro no último parágrafo, no conto O Escritor Acorrentado. Nele, um escritor fracassado entrega-se ao diabo em troca de poder escrever, antes de saber que estava predestinado a produzir um livro extremamente interessante. Desta forma, é buscado pela morte que condena ao inferno. No final, a morte dos condenados pensa diretamente o que já estava claro no contexto, que seria sobre a perda da confiança em si e à fraqueza ao enfrentar obstáculos. Ainda que tenha sido um texto bom, este final me desagradou; e achei desnecessário.
Em O País que Renasceu, Jony de Oliveira inclui no enredo suas crenças políticas e morais, quando um vampiros chegam ao Brasil e tomam conta do governo, submetendo os antigos políticos à servirdão. De certa forma, o texto lembrou True Blood, e o cunho político surgiu quase no final do texto, do nada e de forma superficial – aliás, como falar bem de política num contexto fantástico em até 8.000 caracteres? Acho que foi uma ideia ambiciosa, que precisaria de mais espaço e trabalho. Outro problema que encontrei no texto, acredito que esteja relacionado ao processo de revisão – em alguns trechos, as frases se tornam tão prolixas que dificultam o entendimento.
Mas, como toda antologia, existem alguns contos que simplesmente nos ganham do início ao fim, e queremos os reler várias vezes. Gian Danton me surpreendeu novamente, agora com O Segredo de Helena, numa narrativa belíssima na qual o marido encontra algo que sua mulher falecida havia deixado escondido, que passa a lhe lembrar das coisas que passou com ela, trazendo-lhe novamente felicidade e paz. Em Reflexões de um Fantasma, um recém cadáver tece suas teorias sobre a morte e o pós-morte, numa linha digna de grandes autores, como Joe Hill. Presença, de L. E. Haubert, traz uma atmosfera monótona que se encaixa perfeitamente com o plot, no qual a morte leva duas vítimas para o outro mundo. O Estranho Caso de Silva Nerval (Ana Maria dos Santos) é, simplesmente, algo que precisa ser lido pelos fãs da literatura nacional, tanto por sua estruturação peculiar quanto pelo desencadear dos eventos sobrenaturais na nova casa da protagonista. E O Livro do Bardo (Robert Filgueira Júnior), que deve fazer parte da leitura dos fãs de fantasia medieval, cria um personagem envolvente, ao estilo anti-herói, numa narrativa com a dose certa de aventura.
Alguns outros textos também merecem ser comentados: Cadu Santos (Mortífera) apresenta uma personificação intrigante e divertida de anjos da morte; Marcos Nogueira (A Cadeia Alimentar) narra uma visão interessante, ainda que pessoalmente eu discorde, dos motivos para não se comer carne, que lembra muito A Revolução dos Bichos (George Orwell); O Triste Fim de uma Sombrinha (Márcio Goes) é um texto bem humorado e inteligente que fala sobre os “guardachuváceos” (e tudo narrado por um guaxinim!); Os Capitães Vampiros, de Ivan Lantyer Neto, é dinâmico e contextualizado, além de apresentar um neologismo que se encaixou bem na situação.
Como um todo, o livro é interessante e uma boa pedida para os fãs de literatura fantásticas, seja com lobisomens, vampiros, espíritos ou medieval. A seleção de contos (36 ao todo) foi diversificada e equilibrada, ainda que tenha faltado uma organização mais coerente entre temáticas (será que realmente necessária?); e as imagens para cada conto são boas, ainda que não muito elaboradas e posicionadas em lugares pouco favoráveis. O livro, infelizmente, apresenta alguns erros de digitação e parcela dos contos poderia estar em melhor forma se o trabalho de edição tivesse sido feito com mais afinco. Pela experiência com o meu próprio conto que foi publicado neste livro (Rubro Amor), que não mencionei acima, vejo vários pontos que poderiam ter sido modificados em prol de melhorá-lo e, assim, melhorar o livro.
Assim sendo, eu realmente indico o livro, apesar das problemáticas que apresentei; e estou aberto a discussões sobre as situações que levantei. Informações para compra dos livros podem ser conseguidas no sie da Editora Regência.

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Encontro das Águas


Abaixo está um trecho do conto Encontro das Águas, publicado no livro Dimensões.BR - Volume II, da Editora Andross, em 2012. É uma narrativa fantástica num futuro distópico, que pretendo explorar mais algum dia. O organizador da antologia foi o Fernando Heinrich, que nos poucos e-mails que trocamos durante o processo de edição do conto, me ensinou bastante coisa. Livros podem ser encomendados pela Editora Andross e, qualquer blogueiro que estiver afim de resenhar o livro, só entrar em contato. Espero que curtam a ideia do conto!

            - Com licença? Você trabalha aqui? – perguntei, quando cheguei perto o bastante. Era uma mulher, virada para o rio, de longos cabelos negros, que escorriam por sua pele morena; mexia as pernas mergulhadas na água que passava lentamente por aquele trecho.
            Por um momento ela pareceu não ouvir o que eu tinha falado. Deslizava sua mão na superfície da água; percebi que havia dezenas de minúsculos peixes ali, como se ela estivesse lhes alimentando. Após alguns segundos, nos quais eu fiquei em dúvida se saía dali enquanto tinha a chance ou se tentava lhe dirigir a palavra novamente, ela virou delicadamente o rosto em minha direção. Tinha traços indígenas puros, seu nariz curto e arredondado, levantado num aspecto altivo e olhos puxados. Embasbacado e com o coração a ponto de sair pela boca, sentei-me ao seu lado, deixando a água cobrir minhas canelas e molhar minha calça jeans; sua beleza era sobrenatural, sedutora, feérica.
            - De certa forma, sim. Trabalho aqui, vivo e sou aqui. – respondeu. E voltou-se para a atividade de deslizar a mão sobre a água.

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A Cidade Maravilhosa


            Sem falar no cheiro de mijo que infesta qualquer beco, que às vezes nem precisam ser becos pra conterem o odor fétido que nos invade as narinas. A cidade maravilhosa deve ter morrido, ou apenas ido descansar, como tudo que é bom tem feito nos últimos anos. O que resta da cidade se masturba sob os olhos do Cristo e geme escandalosamente para o mundo, atraindo olhares e pessoas, que se juntam cegamente à massa em êxtase por toda a perfeição que outrora foi concedida à cidade maravilhosa, e juntos gritam mais alto, masturbando-se e jorrando sêmen no mar, esgotos, prédios e na face estoica do seu grande patrono.
            Ainda assim a paisagem permanece em pé, com o pouco de vida que lhe resta. Será que sobrevive desse excesso de gozo e urina? Talvez esteja decaindo, feito árvore que perde todo cerne, toda vida, e só a casca e os vasos mortos a mantém em pé, aparentemente sã. Cupins, ela tá cheia deles, a cidade. Que jogam seus líquidos venenosos por qualquer canto e esperam que tudo permaneça como está.

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Cópia (in)fiel




            Em 2010 foi lançado um filme chamado Cópia Fiel (Copie Conforme, 2010), apresentando uma longa e bem fundamentada discussão artístico-filosófica sobre a validade da arte como Original ou como Cópia, utilizando como cenário um casal que ao longo do enredo passa a nos confundir com a veracidade da existência de um relacionamento prévio entre eles. Partindo de diversos ângulos, você passa a se perguntar ‘o que é original?’, ‘o que é cópia?’ e ‘como se distinguir as duas?’. Mas o mais importante é: ‘o valor da obra está na originalidade dela, tão ensimesmada, ou na perspectiva daquele que a contempla?’. Partindo daí, você já deve estar se perguntando ‘E o que diabos isso tem a ver com Jogos Vorazes?!’
            A relação é indiscutível. Toda vez que best-sellers surgem, começam as discussões intermináveis sobre plágios, cópias e falta de originalidade. E, como de praxe, comentários surgiram sobre a ligação da série Hunger Games (Suzanne Collins) e de uma obra japonesa, apenas um pouco mais antiga, denominada Battle Royale (Koushun Takami, 1999). A autora de Jogos Vorazes, em entrevistas que podem ser vistas no Youtube, inspirou-se na confecção da obra em outras histórias; tais como mitos gregos e história romana, além de um exímio entendimento poético quanto ao poder de uma nação sobre a população. De qualquer forma, a similaridade entre os dois livros surge no background: personagens ainda não em idade adulta são forçados a matar uns aos outros, até que sobre apenas um, num jogo promovido por um Governo desgovernado em suas vontades tiranas; em certo ano, o personagem principal participa do jogo, e em certo ponto vence ao mesmo tempo em que engana àqueles que promovem o jogo, causando uma abertura para uma sequência.
            Em linhas gerais, as semelhanças são interrompidas aí, ainda que semelhanças entre personagens ainda possam ser observadas ao longo das tramas, caso comparadas intimamente. Enquanto Suzanne expõe a destruição massiva da sensibilidade que têm ocorrido na sociedade por causa das mídias e de quem as controla (representadas na trama por um programa de televisão anual, que angaria investimentos e apostas, num reality show dantesco) e a submissão dos mais fracos em frente a um reino dito superior; Takami vai ao fundo da alma humana, priorizando o desespero e a decadência de um grupo de amigos que se veem repentinamente numa situação desesperadora, expondo profundezas demoníacas que existem na alma de um ou de outro. Enquanto Ruth te faz chorar com sua delicadeza e força infante, o sangue espirra através do livro com a foice de Mitsuko Sohma. À medida que a beleza da capital é vivenciada para todos os cantos com cores vivas e felicidade, cresce o asco que os leitores têm do governo oriental. Os dois livros, incontestavelmente, possuem alma e profundidade diferentes (ainda que o pressuposto seja similar); e podem te sensibilizar para fatos diferentes e de maneiras desiguais.
            Pessoalmente, prefiro ler cada uma das obras e vivenciar ficticiamente cada uma das experiências, deixando que a literatura me leve para tais mundos e amplie minha visão. E para você, o que é realmente importante? Sensibilizar-te com um espectro literário maior, ou acusar de plágios e cópias (in)fiéis?

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Trópico de Câncer


À Saah Tavares, que me introduziu às obras de Henry Miller.

"Com exceção de Renaud, que se sentava ao mesmo lado, os outros desvaneceram-se de minha memória; pertenciam àquela categoria de indivíduos descoloridos que formam o mundo dos engenheiros, arquitetos, dentistas, farmacêuticos, professores, etc. Nada os distinguia dos torrões de terra sobre os quais esfregariam as botas mais tarde. Eram zeros em todo o sentido da palavra, cifras que formam o núcleo de uma cidadania respeitável e lamentável. Comiam de cabeça baixa e eram sempre os primeiros a reclamar um segundo prato. Dormiam pesadamente e nunca se queixavam; não eram alegres nem miseráveis. Os indiferentes que Dante colocou no vestíbulo do Inferno. A alta sociedade."

"Hoje sinto orgulho em dizer que sou inumano, que não pertenço a homens e governos, que nada tenho a ver com crenças e princípios. Nada tenho a ver com a maquinaria rangente da humanidade - eu pertenço à Terra! Digo isso deitado em meu travesseiro e posso sentir os chifres nascendo em minhas têmporas. Posso ver ao redor de mim todos aqueles meus malucos antepassados dançando em roda da cama, consolando-me, estimulando-me, vergastando-me com suas línguas de serpente, arreganhando os dentes e olhando-me de soslaio com seus crânios esquivos. Sou inumano!" 

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Reflexos da lua sobre o mar


Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra...”
(Aqueles Dois, Caio Fernando Abreu)

I
            Estava andando por dias. Não tinha nem comida (além dos ocasionais lagartos e escorpiões que encontrava em seu caminho) nem água em abundância, retirando apenas o necessário para sobreviver dos cactos ou poças que encontrava no caminho por sincero desejo da sorte. Se não fosse pelos calangos e escorpiões que passavam em sua frente, com toda a certeza já teria caído no chão a quilômetros de onde estava e morrido, desnutrido e desidratado sob o sol escaldante.
            Por fim enxergou a cidade que se erguia, maltrapilha e decadente, à frente. Abriu um largo sorriso de alívio, parando por um instante e jogando todo o peso sobre a vareta que estava utilizando desde uns dias atrás como apoio. O galho cedeu e quebrou, deixando o homem cair no chão. Sem ânimo algum para levantar da areia quente, tão cansado que estava, adormeceu, assim sem mais nem menos – ou desmaiou, caso assim lhe pareça mais convincente. Mais tarde, quando contivesse mais energia acumulada, levantaria, encontraria uma pessoa de bom coração naquela cidade deserta, que o alimentaria e saciaria sua sede e, principalmente, ajeitaria o braço esquerdo que pendia defeituoso adjacente ao corpo.

II
            Andava novamente nas terras áridas do cerrado. Enxergava a lua proeminente no céu respingado por centenas de estrelas, tendo expulsado há pouco o sol e o calor para outro plano, o que era um alívio tremendo ao seu corpo. Por entre o piado de corujas, aves tipicamente noturnas, viu um vulto passando rapidamente em direção a uma moita. Um lagarto. Será?
Caminhou lentamente em direção à moita, preparando-se para um ataque surpresa ao réptil, que lhe renderia energia suficiente para continuar caminhando por toda a madrugada. Chegou cada vez mais perto e ouviu um som que definitivamente não era proveniente de um lagarto... Um sibilo... Mas a fome excruciante não lhe deixou pensar muito mais no assunto.
Quando seu rosto estava quase nos arbustos, algo se ergueu acima de sua cabeça: um corpo cilíndrico de quase meio metro de largura, cheio de escamas intrincadas que formavam uma bela peça de arte, mas mortífera. Levantou o rosto rapidamente para encarar os hipnotizantes olhos da serpente e se jogou para trás, sacando sua poderosa pistola belga em direção à cabeça do animal que havia se levantado sobre seu corpo e o encarava de cima, pronta para o bote. A cobra avançou. Sua boca aberta num sorriso macabro com dois caninos asquerosos pingando veneno. Ele, tentando a todo custo salvar sua vida, apertou o gatilho.
- Moço! Moço! Acorda!
Abriu seus olhos subitamente. Confuso no entremear de realidade e sonho, pensando se aquilo realmente tinha acontecido. Observou a menina que lhe acordara, mudo, na medida em que seus olhos se adaptavam à realidade. Não pode ter mais que 8 anos, pensou. A menina tinha rosto bem redondo e bochechas rosadas que cercavam um sorriso incerto, misto de curiosidade e preocupação – do tipo que se vê apenas junto à inocência das crianças. Seus dentes incisivos eram grandes, dando-lhe um ar cômico.
- Você está bem, senhor?
Desacostumado a falar depois de tantas semanas sem a companhia de qualquer outra pessoa, forçou ao máximo a voz, que saiu rasgando-lhe a garganta. De início, tudo que saiu foi um grunhido meio assustador, seguido de uma tosse que perdurou por quase dois minutos inteiros. A pequena lhe trouxe um copo de água morna, do qual ele se serviu imediatamente tomando-o todo em dois grandes goles. Abriu de novo a boca: - Obrigado, criança. Qual seu nome?
A menina o olhou desconfiada, como se ele tivesse feito algo errado: - Meu nome é Yuu, e o do senhor?
Olhou com mais cuidado ao quarto onde estava deitado. Era pequeno e desarrumado, contendo inúmeros vazamentos que haviam manchado com o tempo as paredes de ovenaria exposta. Poucos móveis decoravam o ambiente e uma cortina tapava o sol, que ele bem sabia castigar a região. Com a mão direita, a única que funcionava, tateou o corpo e se descobriu sem camisa, suado e com bandagens úmidas lhe recobrindo o tórax nú.
Em suas calças, procurou por sua arma, mas não a encontrou. Tentou levantar o outro braço, mas lhe era impossível. Aquele já estava quebrado desde metade do deserto, quando dera de cara com um grupo de caçadores de recompensa, que rodeavam aos montes aquelas regiões atrás de bandidos com prêmios pela cabeça, ouro e moças - estas últimas podiam ser virgens ou não, tanto fazia. No embate, depois que todos perderam suas pistolas, o braço mecânico foi danificado e, logo depois de Aureliano (protagonista desta estorieta) subjugar os caçadores, o braço parara de funcionar.
- Aureliano. Você que me salvou?
- É óbvio que não foi tal criança. - Outra voz surgiu à porta. Virou-se e viu uma senhora de rosto severo, cabelos brancos amarrados num coque no topo da cabeça. A mulher entrou no quarto com uma bandeja e se aproximou da cama, deixando a bandeja na mesinha ao lado da cama. Enquanto ela ajeitava a prataria, reparou que a mulher vestia roupas desgastadas e sujas. Sentou-se na cadeira em frente à cama e ordenou que a menina fosse almoçar. – Meu neto o salvou. Encontrou-o hoje no início da manhã, quando ia para a oficina.
- Ele está? Preciso lhe agradecer por ter me achado.
- Coma. – Ordenou uma única vez, no mesmo tom que utilizara com Yuu, apontando para a mesinha de canto. Levantou-se logo depois e saiu do quarto, como se ele fosse uma criança da casa.
Inseguro sobre o que fazer e sentindo o estômago reclamar, pegou a tigela que a mulher lhe deixara e tomou a sopa de legumes e raros pedaços de carne endurecida, mas que lhe pareceu um manjar. Quando terminou, percebeu que seu corpo continuava dolorido e cansado. Adormeceu, agora embebido num sono sem pesadelos, renovador.

III
            Seu instinto sempre foi aguçado. Desta vez, acordara com a nítida sensação de estar sendo observado. Abriu os olhos, ignorando a dor que persistia em seu corpo, amena se comparada com a do dia anterior. Buscou lembrar onde estava e logo a memória da senhora e da criança orientais surgiram, explicando superficialmente os fatos recentes. Respirando pausadamente e se concentrando a qualquer ruído que porventura o cercasse, reparou na respiração de alguém junto à porta.
            - Yuu? É você que está aí?
            Alguns segundos se passaram sem resposta, mas logo a porta se abriu, revelando o inapto espião matutino. Uma criatura desajeitada e bastante alta ficou parada diante a porta aberta. Seu rosto redondo e boca contorcida num sorriso envergonhado formavam uma cena ainda mais engraçada do que a menina que o acordara no dia anterior. Teve a nítida sensação, naquele instante, que por sobre toda aquela família pairava aquela atmosfera leve que se expandia para o ambiente. O rapaz era bastante alto e apoiava um dos seus pés no outro joelho, pousando sobre uma única perna feito flamingos que habitavam as regiões mais ao oeste do continente.
            - Desculpe lhe incomodar... Eu só queria ver como você estava... – A voz ainda não se formara integralmente, misturando um sopro adolescente ao timbre mais adulto e forte que um dia se instauraria ali por completo.
            - Não é nada, garoto. Você que me achou, não foi?
            Nanae não conseguiu responder por quase um minuto, o que lhe era peculiar. Era bastante conhecido por todos os poucos moradores da cidade como inabalável “falador”, pois dificilmente passava um minuto inteiro sem falar, mesmo em situações como enterros. Mas fazia exatamente dois dias que sua voz se escondera (e muitos na cidade perceberam isso), pois seus pensamentos se concentravam agora sobre os tormentos que passavam pela primeira vez no corpo do recém-formado homem. Para ser mais sincero, sua voz fora roubada como troféu pela imagem do forasteiro encontrado, a criatura divina de barba espessa e corpo definido, selvagem. Agora tinha que lhe resgatar.
            - Sim sim fui eu sim – falou dessa mesma forma que aqui exponho, peculiar pela falta de pausas, mas que é tão comum àqueles que estão tão nervosos que as palavras jorram sem amarras de suas bocas trêmulas. – Tava indo trabalhar e te encontrei caído no meio do caminho e não sabia o que fazê. Então te trouxe pra casa.
            - Agradeço-lhe por ter me salvado da morte certa, rapaz. Se você não tivesse me encontrado, teria sucumbido às aves oportunistas, à sede ou à fome. Espero que possa lhe recompensar pelo gesto.
            Viu o rosto do rapaz corar, cobrindo-lhe algumas sardas que marcavam seu rosto juvenil. De alguma forma, aquela demonstração quase infantil num corpo adulto o lembrou de um antigo companheiro de viagem.
            - Você, por acaso, percebeu se eu carregava algo comigo quando encontrado?
            Nanae arregalou os olhos, demonstrando saber sobre o Aureliano falava. Entrou de uma vez no quarto e fechou a porta cuidadosamente atrás de si, tendo cuidado para que sua avó não percebesse que os dois conversavam. Aproximou-se da cama do forasteiro, parando a apenas vinte centímetros de distância, parecendo temeroso com a ideia de se aproximar mais dali.
            - Fala baixo... A minha vó não gosta de armas. Se ela souber que você estava com uma, ela te põe pra fora rapidinho!
            Aureliano abriu um sorriso, achando graça da situação, naquele pequeno segredo entre os dois: - E onde ela está? A arma, quero dizer.
            - Deixei a pistola na minha oficina... Ela era do meu pai, agora é minha. A oficina, quero dizer. – Abriu um sorriso, percebendo a confusão e a naturalidade da conversa, feito de velhos conhecidos. – Quando tu quiseres, podes ir lá pegar e eu posso dar um jeito no teu braço, também. Que ele parece não tá funcionando direito, né? Não sou tão bom quanto meu pai era, mas certeza que consigo ajeitar isso aí! – Abriu um largo sorriso, talvez de convencimento, iluminando seu rosto, queimado do inescrupuloso sol da região, e de olhos puxados.
            - E já apareceram muitos braços assim por lá?
            - Na realidade, não. Mas já consertei autômatos bem mais complicados que esse teu braço. Podes confiar em mim.
            A conversa continuou, vertendo para o caminho de autômatos e tecnologia a vapor. Nanae demonstrava grande conhecimento prático de dispositivos mecânicos envolvendo autômatos e veículos, mas pouco do que tangia a arte de tecnohumanos – ou seja, humanos conectados aos avanços tecnológicos das últimas décadas. Demonstrava grande interesse em aprender mais, escutando cheio de atenção o que Aureliano contava sobre as grandes cidades que visitara pelo país e sobre o terror do cerrado, com os constantes duelos com armas de fogo que sempre acabavam derrubando grande parte dos envolvidos, banhando de sangue escarlate a areia seca, antes ocupada apenas por poucos animais e plantas que resistiam ao inexorável calor.
            A conversa durou pouco mais de duas horas e foi interrompida de forma repentina por Nanae, que se levantou de supetão com as feições assustadas (que Aureliano já percebera serem tão próprias do rapaz) e saiu correndo depois de se explicar: - Preciso correr! Muita coisa pra fazer na oficina! Se quiseres, podes passar lá depois!
            Deixou para trás um Aureliano extremamente satisfeito, pistoleiro normalmente solitário daquelas bandas, que pouco se apegava às companhias. O homenzarrão ficou deitado por algum tempo, a cabeça apoiada nas duas mãos, sorriso em direção ao teto. Decidiu, por fim, levantar-se. Com algum esforço, sentou-se na cama e esperou alguns minutos até seu corpo se acostumar com a posição vertical – maldita dor de cabeça! Posicionou as pernas para fora da cama e conferiu as bandagens que revestiam seu peitoral, pondo-se de vez em pé ao lado da cama. Cambaleou por segundos, mas logo se estabilizava sobre o chão.
            Procurou sua camisa pelo quarto e logo encontrou jogada em cima duma mesa. Vestiu-a rapidamente e saiu do recinto, caminhando lentamente pelo corredor estreito. Cauteloso, chegou à cozinha e logo viu o vulto da senhora que o alimentara no que imaginava ter sido a noite anterior. Pediu licença e entrou no minúsculo ambiente que era a cozinha da casa.
            - Tome café. O Nanae está lhe esperando na oficina. – Falou sem rodeios, voltando depois às ervas e legumes que cortava.
            Sentou-se à mesa e comeu o pedaço de pão com café que haviam lhe servido, não se atrevendo a perguntar onde ficava a oficina ou a puxar qualquer assunto com a sisuda mulher que o acolhera na casa. Ao terminar, levantou e saiu da casa após agradecer pelo café da manhã.

IV
            Não tinha muito por onde andar naquela pequena cidade. Sentia os olhares desconfiados dos locais que pairavam sobre ele, o forasteiro. Dois homens no meio do caminho o encararam, ameaçadores, como se ele estivesse entrando em seus domínios. Ainda fraco demais pra lutar, abaixou o olhar e seguiu em frente em direção da oficina do garoto, que tinha lhe sido indicada pela senhora desdentada da padaria.
            O lugar era maior que qualquer casa que ele tivesse passado pela frente e ficava no fim da cidade, quando já não se podia enxergar nenhuma casa ao longe. Construído com ovenaria e bem conservado, parecia até uma loja “de cidade grande”, se não fosse a ausência de janelas de vidro ou autômatos recepcionistas.
            Chegou até a gigantesca porta de ferro do lugar, que se abria através de um comum e complicadíssimo mecanismo a vapor, que puxava a pesada estrutura em direção ao teto. Passou direto por ela, entrando sem mais delongas no grande salão. A princípio, não enxergou Nanae em nenhum dos lugares. Analisou o lugar: esperava que tivessem apenas algumas máquinas caseiras e talvez algum steamóvel, caracterizando a pobreza do lugarejo. Ao contrário, encontrou diversos autômatos de aparências estranhas e outras máquinas que ele sequer sabia o uso, além de diversas peças penduras nas paredes, provavelmente utilizadas em reposições emergenciais.
            Andando desatento pelo lugar, nem percebeu que Nanae lhe observava de trás de uma grande máquina. Caso ele chegasse mais perto, veria que se tratava dum Deságua 2.1, de uma proeminente empresa de tecnologias modernas e que tinha função de tirar água de profundos lençóis freáticos. Ouviu um pigarreio e se voltou na direção.
            - Ah! Você está aí. Estava te procurando – falou, abrindo um largo sorriso para Nanae, que estava deitado debaixo da grande máquina com alguma ferramenta na mão direita. O mecânico se afastou do aparelho em conserto e se levantou.
            - Vieste pegar a arma e consertar o braço, né? Pera lá!
            - Na verdade... Eu vim lhe ver, Nanae.
            Nanae, que já andava em direção de Aureliano, parou no mesmo instante. Olhou completamente atônito para o homem à sua frente, sem saber o que fazer e nem bem certo do que ele quisera dizer com aquilo de “lhe ver”. Por Deus! Tudo só podia estar em sua cabeça mesmo. Não existia nada que sugerisse o contrário. Imaginação. Apenas golpes de sua imaginação que brotava com aqueles novos sentimentos, aquele ruído em seu peito que se espalhava feito lava, deixando seu corpo quente e suas pernas bambas, seu ventre sob aquela pressão estranha.
            - Bom, deixe-me ajeitar seu braço logo. – Disse baixo, olhando para o chão e puxando um banco até perto de Aureliano. – Sente-se aí.

            O conserto durou em torno de duas horas, as quais eles passaram conversando sobre o que já tinham feito na vida. Aureliano contou que seu parceiro de estrada havia morrido fazia mais de três anos e, desde então, não quisera mais companhia de ninguém. Nanae falou que nunca tivera um amigo próximo e que a maior parte de sua vida trabalhara ali. Aureliano amava o mar e estava decidido a fugir para lá, assim que terminasse sua última missão. Nanae jamais tinha visto o mar e a vontade lhe perseguia até nos sonhos. Aureliano, em resposta à animação inesperada do mecânico, prometeu levá-lo para ver as ondas e as gaivotas e mergulhar dentre os peixes coloridos. E daí em diante desatou a falar de tudo que se encontrava no litoral, desde as minúsculas conchas até os grandes navios cargueiros que traziam marinheiros de todos os cantos do mundo às cidades apinhadas de comerciantes e prostitutas.
            Após o término do conserto, Nanae voltou ao trabalho nas outras máquinas e Aureliano não se afastou, continuando a conversa. E, chegada a hora do almoço, os dois se entreolharam sem saber o que fazer. Talvez fosse vergonha que tivesse surgido naquele instante, Nanae cada vez mais envolvido naquelas ideias que seriam assombrosas à cidade e Aureliano envolvido no sorriso de Nanae, que mesmo sem nunca ter visto mar, aparentavam ser tão bonitos e profundos quanto.
            Bom, se fossem dois rapazes como Nanae, a situação jamais iria além dessa troca de olhares. Mas Aureliano não era como ele. Tinha uma experiência de vida gigantesca e era homem feito, daqueles que partem do princípio de que podem pegar tudo aquilo que quiserem. E com toda a certeza Aureliano o queria. Aproximou-se. A atmosfera poderia ser de uma peça romântica, preenchida pelos eventuais cantos de um pássaro numa árvore ao lado da construção e todo o resto em silêncio – o tipo que gera a expectativa de uma multidão enlouquecida querendo saber o que iria acontecer àqueles dois, o coração a lhes subir a garganta de tanto nervosismo e o desejo de que os lábios deles se tocassem logo.
            O corpo de Nanae quase parou de funcionar em certo momento. Só conseguia sentir o nervosismo e a excitação mescladas, tomando cada célula do seu corpo – e Aureliano se aproximava cada vez mais. Agora seus corpos já se encostavam e a boca do homem chegava cada vez mais perto da sua, até que finalmente encostaram. O rapaz sentiu os braços fortes do pistoleiro lhe envolverem e seus músculos entusmecidos – todos eles – pressionarem sua pele. E então, o beijo aconteceu.
            Aureliano já não sentia aquilo fazia, por acaso, três anos. E por aquilo eu me refiro às explosões voluptuosas que só acontecem quando duas almas únicas e destinadas a se encontrarem finalmente se cruzam. Não o desejo por uma carcaça qualquer, que para nossas almas não é mais do que uma diversão adicional por não saber para onde dirigir os desejos. Falo da expressão de Netuno na vida das pessoas, que definiu por séculos ou milênios o encontro desses dois homens, não por seus nomes ou profissões ou quaisquer dessas coisas mundanas, mas por suas almas.
            O beijo foi se desenvolvendo e se tornando cada vez mais intenso, aumentando o calor que eles emanavam e distribuindo-o aos seus redores. Aureliano, mais desenvolto, aumentava as carícias pelo corpo de Nanae, enquanto este último apenas se entregava preguiçosamente, incerto sobre o quê ou como fazer. Sentia as mãos grandes do forasteiro passearem por suas costas como se elas fossem o deserto que lhes cercava, agarrando suas curvas firmemente até as ancas e encaixando-as firmemente sob seus dedos longos. Nanae soltou um gemido e afastou a boca, sentindo todo seu corpo ser consumido por chamas e seu sexo quase explodir por debaixo das calças ao ser friccionado pelas pernas fortes de Aureliano.
            Aureliano conduziu tudo sem parar um instante, envolvido na pele machucada pelo sol de seu parceiro. Desceu os lábios e a língua por todo o corpo do outro, sentindo seu gosto e seu cheiro fraco, evanescente. Ele sempre teve a crença de que todo desejo está no cheiro do corpo e dos cabelos dos homens, que era o que realmente atraía os outros. Que cada um tinha suas próprias preferências pelos odores, que mal percebiam. Mas ele conhecia o seu: aquele odor fraco, que tende a desaparecer, de terra úmida e florestas quando a lua surge, de lealdade, tão delicado como de uma mulher.
            Entre as máquinas, Aureliano deitou Nanae sobre um pano que achara em cima de uma mesa e lhe tirou as roupas, peça por peça; cuidadosamente, mas sem hesitação. Logo os dois estavam desnudos no chão, beijando-se cheios de volúpia enquanto seus corpos se apertavam e esfregavam, o suor escorria de seus poros carregando a paixão que lhes preenchia o interior. Aureliano, ainda comandando a ação, uniu-se definitivamente ao corpo abaixo de si, que gemia num misto de dor e prazer. Os dois estavam confusos com o prazer incinerante, o sexo endurecido de Aureliano preenchendo o corpo de Nanae, até que juntos iam chegando ao êxtase, aumentando a velocidade que seus corpos se contorciam e de seus beijos, até que ambos gozaram e os cheiros de mar e floresta levantaram e se misturaram na sala.
Não cessaram os beijos, cheios de carinho, mesmo depois do desejo de ambos ter sido aspergido sobre o corpo do outro, e apenas se tornaram mais enamorados e entremeados de sorrisos da mais pura felicidade.

V
        A lua estava cheia. Nenhuma daquelas máquinas que soltavam vapor excessivamente poderia ser vista por quilômetros. Na realidade, nada além de areia e mar poderia ser enxergado ali. Nanae estava deitado sobre a areia fria, cansado por ter passado um dia inteiro se banhando no mar, pescando com arpão e mergulhando com um aparelho chamado smorkel que Aureliano havia comprado na última cidade que haviam passado. Estava feliz, mais do que jamais imaginaria estar. Observava a lua, mas logo sua atenção foi desviada.
            Sentiu a mão quente de Aureliano lhe subir as pernas descobertas – talvez tivesse acordando. Confirmou isso quando sentiu o outro depositar um beijo cálido por sobre seu peitoral, descendo centímetro por centímetro com mordiscadas, até chegar na região pélvica. A língua úmida lhe percorreu a região, lentamente, subindo por seu falo e logo a boca do homem lhe envolveu todo o sexo. Nanae soltou gemidos que se envolveram com o som do vento e das ondas, numa sinfonia erótica.
Nanae o puxou pelo rosto, e o homem subiu beijando-lhe todo o corpo e esfregando sua barba em sua pele, fazendo-o se contorcer de prazer. Beijaram-se mais uma vez e Aureliano foi empurrado de costas para a areia fria, e Nanae subiu sobre ele,  forçando o mastro a entrar em si. Logo seus corpos se moviam numa cadência sensual, o luar e estrelas lhes banhando as peles fustigadas pelo sol e a musculatura retesada de seus corpos embelezando ainda mais o cenário divino. Nanae acelerou o ritmo, esfregando suas mãos nos peitos fortes de Aureliano, gemendo e falando coisas desconexas, e quando sentiu o líquido espesso do seu mar lhe invadir o corpo, gozou fartamente, sem ao menos tocar em seu falo.

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