Archive for junho 2013

Excalibur


Um amigo me apresentou a série faz pouco mais de um ano (ou seriam dois?). Este é o volume final d'As Crônicas de Artur, uma trilogia que com toda a certeza recomendo para todo fã de fantasia ou de histórias que se passam na Idade Medieval. Em breve postarei uma pequena resenha do livro!

- Quando eu tinha a sua idade achava que poderia renovar o mundo. Acreditava que todo esse mundo só necessitava de honestidade e gentileza. Acreditava que se tratamos as pessoas bem, que se lhe damos paz e oferecemos justiça elas responderão gratidão. Achava que podia dissolver o mal no bem. - Ele fez uma pausa. - Acho que pensava nas pessoas como se elas fossem cães - prosseguiu, pesaroso -, e que se você lhes dá afeto suficiente elas serão dóceis. Mas elas não são cães, Gwydre, são lobos. Um rei precisa administrar mil ambições, e todas elas pertencem a pessoas falsas. Você será lisonjeado. E zombado pelas costas. Os homens jurarão lealdade imortal numa respiração e tramarão sua morte na próxima. E se você sobreviver às tramas, um dia estará com a barba grisalha como eu, olhará para o passado e verá que não realizou nada. Nada.

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Fantasiando


Título: Fantasiando
Organizador: Sérgio Prado
Autores: Alda Pereira, Alexandre Leão, Ana Maria dos Santos Silva, Andy Azous, Betta Fernades, Bruna Souza Resende, Bruno Eleres, Carla Witch Princess, Carla Dalmolin, Carla Elisio, Cadu Lima Santos, Carlos Henrique Pereira Maia, Christian Lima, Claudio de Albuquerque, Danilo Souza Pelloso, Mayra Maneira, Gian Danton, Ivan Lantyer Neto, Jony Anderson de Oliveira, José Alexandre Fargi Faria, Judith Nogueira, JBAlves, Luana Galindo, Marcelle Acosta, Márcio Roberto Goes, Marcos Alexandre S. de Almeida, Marcos T. Nogueira, Paulo Cilas, Renata Zoppello, Robert Gilgueira Júnior, Rosângela de Moura, Sérgio Prado, Uda Qasim, Werner de Paula
Editora: Regência
Ano: 2012
Número de Páginas: 156

Quando crianças, nós sonhamos. Passamos os dias imaginando como o Papai Noel entra em nossas casas mesmo sem termos lareiras, acreditamos livremente em vampiros, bruxos, deuses, e muito mais. É um período que o mundo onírico faz parte de nosso universo e se encaixa perfeitamente nele, sem muitos questionamentos. Depois desta, temos uma fase onde a fantasia já se torna estranha às regras do mundo, algo que não é possível no mundo real – daí desacreditamos em tudo aquilo que nos contaram e passamos a ver o mundo com os “pés no chão”.
Como uma forma de resgatar nossa capacidade infante de sonhar, acredito que o gênero fantástico surja. Então, quando leio textos supostamente fantásticos que atribuem o que houve de fora do mundano à loucura, sonhos ou imaginação, a atração pelo texto diminui drasticamente. Não é o fato de tentar dar uma ordem à fantasia, e sim dar explicações pouco criativas, como “eu sonhei com tudo isso” ou “estou num hospício, afinal de contas”, dando ao texto assim uma personalidade pouco madura dentro do contexto daquilo que é fantástico, maravilhoso ou extraordinário. Afinal, dar uma explicação plausível ou quase já foi feito inúmeras vezes. E, nem sempre, explicar o que é fantástico deve ser uma preocupação, já que o objetivo central deste gênero é partir deste mundo para outros.
E acredito que seja essa minha principal crítica à antologia Fantasiando, publicada pela editora Regência em 2012, e organizada pelo escritor Sérgio Prado. Vários textos me pareceram pouco desenvolvimentos dentro da Literatura Fantástica, atribuindo explicações pífias para a fantasia. O conto In Vitro e Extracorpóreo (Renata Zoppello), que inicialmente apresenta uma ideia que me pareceu genial para um futuro distópico, mostra ao fim que tudo não se passou de um sonho da personagem. A Possessão (Danilo Souza Pelloso) apresenta uma narrativa bem escrita e ainda melhor estruturada do que uma jovem possuída pelo demônio sente (possessão em primeira pessoa, que interessante!), e fecha o conto com a personagem sendo louca – uma coisa é sugerir que seja loucura, e deixar no ar a dúvida, outra é falar abertamente. Alexandre Leão, em Visões que Matam, desenvolveu um suspense instigante, e entrega seu protagonista para um hospício nas últimas linhas do conto.
Se por um lado as explicações mais simples para o que é fantástico me pareceu erroneamente aplicada à proposta do livro, o título Fantasiando também traz outro sentido, que não propriamente o que sugeri. Fantasiar denota o ato de imaginar, e dois contos se destacam por fazerem esse apelo em prol de mantermos a capacidade de sonhar. Betta Fernandes (O Mundo Imaginário do Leo) tece com habilidade e muito dinamismo, utilizando-se muito bem de pontuações, a imaginação de um menino; e Rosângela de Moura (A Janela e a Chuva) retrata as lembranças de um adulto sobre como era sonhar, num texto calmo e agradável.
Movendo-se de como as crianças imaginam para o quê, o livro apresenta dois contos que me pareceram infantis, daquelas que poderíamos sentar em frente a crianças de 5 ou 6 anos e ler sem problemas – e fazê-las querer um pouco mais. Luana Fernandes (Bella, a Fada Madrinha) teve uma narrativa simples e delicada, deliciosa de ler do início ao fim, mesmo com os fatos negativos que Bella presencia. Em A Pequena e Desastrada Susan (Andy Azous), uma fada tem vários problemas em realizar suas tarefas como fada da terra, mas, por fim, consegue fazer uma belíssima criação – e o pequenino conto é repleto de uma atmosfera leve. Um terceiro conto, que acho que poderia agradar um público predominantemente feminino de 10-14 anos, é o de Marcelle Acosta (Confiando no Cara Errado). Nele, a jovem autora mostra, num background fantasioso, os desejos e angústias de uma adolescente. Apesar de a leitura não ter sido ao meu gosto, o conto foi bem estruturado para uma menina de sua idade e bom para um estilo chicklit/fantasia – mas mostrou em demasia do que claramente suas referências literárias, como Harry Potter e Crepúsculo (e House of Night, talvez?).
Outro problema que me pareceu comum aos contos do livro, e na minha opinião demonstra um pouco da imaturidade na literatura de ficção, é a inserção à força de um cunho moral – que não seja necessariamente parte da ação. Quero dizer, não é formatar o enredo para caber análises filosóficas ou sociológicas, e fazê-lo de forma descarada e dizer tudo que quer dizer diretamente. Para mim, isso na maior parte das vezes descaracteriza um pouco a fantasia na qual estamos inseridos, e é desnecessário e pouco empolgante. Este problema se repetiu três vezes pelo livro:
Em Tnias Niamreg, de Marcos de Almeida, o autor torna mulheres em floresta, num contexto um tanto quanto confuso. Além disso, um dos personagens fica explicando insistentemente que mulheres nunca deixarão de ser flores e conta a história de seu planeta e etc. Acho que este foi um dos contos que menos me agradou do livro, por essa sua características extremamente explicativa e com pouco foco em ações ou pensamentos menos “moralistas”.
Carla Dalmolin desliza e cai no mesmo erro no último parágrafo, no conto O Escritor Acorrentado. Nele, um escritor fracassado entrega-se ao diabo em troca de poder escrever, antes de saber que estava predestinado a produzir um livro extremamente interessante. Desta forma, é buscado pela morte que condena ao inferno. No final, a morte dos condenados pensa diretamente o que já estava claro no contexto, que seria sobre a perda da confiança em si e à fraqueza ao enfrentar obstáculos. Ainda que tenha sido um texto bom, este final me desagradou; e achei desnecessário.
Em O País que Renasceu, Jony de Oliveira inclui no enredo suas crenças políticas e morais, quando um vampiros chegam ao Brasil e tomam conta do governo, submetendo os antigos políticos à servirdão. De certa forma, o texto lembrou True Blood, e o cunho político surgiu quase no final do texto, do nada e de forma superficial – aliás, como falar bem de política num contexto fantástico em até 8.000 caracteres? Acho que foi uma ideia ambiciosa, que precisaria de mais espaço e trabalho. Outro problema que encontrei no texto, acredito que esteja relacionado ao processo de revisão – em alguns trechos, as frases se tornam tão prolixas que dificultam o entendimento.
Mas, como toda antologia, existem alguns contos que simplesmente nos ganham do início ao fim, e queremos os reler várias vezes. Gian Danton me surpreendeu novamente, agora com O Segredo de Helena, numa narrativa belíssima na qual o marido encontra algo que sua mulher falecida havia deixado escondido, que passa a lhe lembrar das coisas que passou com ela, trazendo-lhe novamente felicidade e paz. Em Reflexões de um Fantasma, um recém cadáver tece suas teorias sobre a morte e o pós-morte, numa linha digna de grandes autores, como Joe Hill. Presença, de L. E. Haubert, traz uma atmosfera monótona que se encaixa perfeitamente com o plot, no qual a morte leva duas vítimas para o outro mundo. O Estranho Caso de Silva Nerval (Ana Maria dos Santos) é, simplesmente, algo que precisa ser lido pelos fãs da literatura nacional, tanto por sua estruturação peculiar quanto pelo desencadear dos eventos sobrenaturais na nova casa da protagonista. E O Livro do Bardo (Robert Filgueira Júnior), que deve fazer parte da leitura dos fãs de fantasia medieval, cria um personagem envolvente, ao estilo anti-herói, numa narrativa com a dose certa de aventura.
Alguns outros textos também merecem ser comentados: Cadu Santos (Mortífera) apresenta uma personificação intrigante e divertida de anjos da morte; Marcos Nogueira (A Cadeia Alimentar) narra uma visão interessante, ainda que pessoalmente eu discorde, dos motivos para não se comer carne, que lembra muito A Revolução dos Bichos (George Orwell); O Triste Fim de uma Sombrinha (Márcio Goes) é um texto bem humorado e inteligente que fala sobre os “guardachuváceos” (e tudo narrado por um guaxinim!); Os Capitães Vampiros, de Ivan Lantyer Neto, é dinâmico e contextualizado, além de apresentar um neologismo que se encaixou bem na situação.
Como um todo, o livro é interessante e uma boa pedida para os fãs de literatura fantásticas, seja com lobisomens, vampiros, espíritos ou medieval. A seleção de contos (36 ao todo) foi diversificada e equilibrada, ainda que tenha faltado uma organização mais coerente entre temáticas (será que realmente necessária?); e as imagens para cada conto são boas, ainda que não muito elaboradas e posicionadas em lugares pouco favoráveis. O livro, infelizmente, apresenta alguns erros de digitação e parcela dos contos poderia estar em melhor forma se o trabalho de edição tivesse sido feito com mais afinco. Pela experiência com o meu próprio conto que foi publicado neste livro (Rubro Amor), que não mencionei acima, vejo vários pontos que poderiam ter sido modificados em prol de melhorá-lo e, assim, melhorar o livro.
Assim sendo, eu realmente indico o livro, apesar das problemáticas que apresentei; e estou aberto a discussões sobre as situações que levantei. Informações para compra dos livros podem ser conseguidas no sie da Editora Regência.

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Encontro das Águas


Abaixo está um trecho do conto Encontro das Águas, publicado no livro Dimensões.BR - Volume II, da Editora Andross, em 2012. É uma narrativa fantástica num futuro distópico, que pretendo explorar mais algum dia. O organizador da antologia foi o Fernando Heinrich, que nos poucos e-mails que trocamos durante o processo de edição do conto, me ensinou bastante coisa. Livros podem ser encomendados pela Editora Andross e, qualquer blogueiro que estiver afim de resenhar o livro, só entrar em contato. Espero que curtam a ideia do conto!

            - Com licença? Você trabalha aqui? – perguntei, quando cheguei perto o bastante. Era uma mulher, virada para o rio, de longos cabelos negros, que escorriam por sua pele morena; mexia as pernas mergulhadas na água que passava lentamente por aquele trecho.
            Por um momento ela pareceu não ouvir o que eu tinha falado. Deslizava sua mão na superfície da água; percebi que havia dezenas de minúsculos peixes ali, como se ela estivesse lhes alimentando. Após alguns segundos, nos quais eu fiquei em dúvida se saía dali enquanto tinha a chance ou se tentava lhe dirigir a palavra novamente, ela virou delicadamente o rosto em minha direção. Tinha traços indígenas puros, seu nariz curto e arredondado, levantado num aspecto altivo e olhos puxados. Embasbacado e com o coração a ponto de sair pela boca, sentei-me ao seu lado, deixando a água cobrir minhas canelas e molhar minha calça jeans; sua beleza era sobrenatural, sedutora, feérica.
            - De certa forma, sim. Trabalho aqui, vivo e sou aqui. – respondeu. E voltou-se para a atividade de deslizar a mão sobre a água.

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