Archive for julho 2013

Excalibur


Título: As Crônicas de Artur – Excalibur
Autor: Bernard Cornwell
Editora: Record
Nº de Páginas: 529

            Excalibur é, sobretudo, uma história sobre valores morais e lealdade.
            Quando estudei, por poucos meses, Direito no início de 2008, li capítulos de um livro de introdução às ciências jurídicas. Em meio ao primeiro capítulo, li algo interessante, que era mais ou menos assim: “... o direito é responsável pela mediação das relações humanas, do início ao fim”. Mas, antes que leis e normas estivessem bem estruturadas,  juramentos e valores morais eram responsáveis por tal intercessão em conflitos. E, muito do que ocorre no livro é produto de um embate dos juramentos e necessidades de Artur e de muitos outros homens importantes da época (do mito).
            Incerto se Artur realmente existiu ou se não passa de um mito, Bernard Cornwell constrói uma intrincada trama baseada em alguns fatos históricos plausíveis e documentados, demonstrando amplo conhecimento sobre a história da Inglaterra. O romance de ficção histórica parte da visão do Lorde Derfel Cadarn, um dos únicos sobrevivente da época Arturiana, que agora vive servindo São Sansum e narra a história de Artur para Igraine, mulher de Brochavel.
            Nos dois primeiros livros da trilogia As Crônicas de Artur, Derfel passa de lanceiro para Lorde, e se torna um dos homens mais importantes da Dumnonia, reino de Modred. Em Excalibur, Derfel relata em pormenores o que houve depois da grande traição de Guinevere e caracteriza um Artur humilhado e revoltado com o que tinha acontecido, e extremamente machucado com o que ocorreu no final do segundo livro (O Inimigo de Deus). Ao longo do livro, aparece também o grande conflito de Artur quanto a fazer Mordred, um rapaz dissimulado e maligno, rei. Ao passo que Artur havia feito um juramento para o antigo Grande Rei Uther Pendragon, o garoto se mostra incapaz de governar adequadamente – e a saída que Artur encontra é torná-lo rei, mas ele próprio administrar Dumnonia com outros homens de confiança.
            Aprisionado nesta vida que nunca desejou, pois tudo que desejava era uma vida calma com Guinevere, Artur também precisa enfrentar o rápido avanço do cristianismo e a decadência da antiga religião da Bretanha, o druidismo. Merlin e Nimue (também conhecida como Viviane, a Fada) tentam restaurar os poderes dos deuses antigos num grande ritual, incompleto pelo amor de Merlin à família de Artur. Ao longo dos livros, o autor não deixa claro se a magia provinda dos druidas é real ou não, podendo muitas vezes ter sido apenas truques ou coincidências. Mas, com o passar dos capítulos deste último livro, poderes que deixam a balança pensa para a existência da magia aparecem, dando um ar surreal para o livro. Em muitos casos, no entanto, Merlin deixa claro que seus feitiços são truques, e que precisa que as pessoas acreditem nele. Este cenário real/irreal é absolutamente bem delineado e perspicaz; altamente recomendado para os fãs de literatura fantástica, em especial àqueles que gostam de Harry Potter, Game of Thrones e outras sagas com fantasia.
            Artur não é exatamente contra o druidismo, tampouco contra o cristianismo. Ele apenas quer fazer o melhor para seu povo, independentemente da religião que os indivíduos desejam seguir. Porém, nenhum dos líderes ou do povo o vê assim, e sim como inimigo das religiões. Suas batalhas para proteger as fronteiras dos saxões se tornam ínfimas quando a população passa a enxergar pelo viés religioso. É interessante notar como essa porção – além de muitas outras - do enredo adquire caráter atemporal, já que ainda hoje estamos presos nesse conflito entre religiões (ou falta de), que com toda a certeza não deveria ser o tema central de nossas discussões e movimentações.
            Além do problema religioso no reino, os saxões começam a invadir a fronteira para ampliar seus territórios. Derfel, a princípio desconectado de Artur, tenta encontrá-lo ao norte, mas acaba ficando preso no Monte Baddon pelos saxões. A batalha é bem descrita e, na minha opinião, a melhor de toda a série. Entre tudo o que acontece, algumas ações são particularmente importantes: a tática de Guinevere, que fez Derfel levantar o estandarte da princesa e criou uma relação inexistente entre os dois; o encontro do pai de Derfel (um dos reis saxões) com a família do filho, e sua morte.
            E, quando os saxões são finalmente derrotados e pensamos que tudo vai dar certo na vida de Artur, Guinevere, Derfel e da princesa Ceinwyn, esta última adoece. Derfel descobre que existe uma trama de Nimue por trás, que inconformada com o feitiço falho de Merlin, tenta adquirir todo seu conhecimento e finalizar a magia. Ela, indiferente à antiga amizade de Derfel, trava uma última luta contra o ex-lanceiro em prol do retorno dos deuses da antiga religião. Em meio à fuga desesperada, Derfel cai na armadilha de Mordred para retomar todo o poder em Dumnonia. Cercado por dois exércitos, um de loucos e outro de renegados, Derfel e Artur (além de Sagramor, um dos aliados mais leais dos dois) esgotam suas forças numa última batalha.
            Tendo este complexo enredo, e ótimas descrições de batalhas, Bernard Cornwell apresenta um mundo que já não sabemos se foi ou não real, e confunde um pouco aqueles que possuem a tendência a se perder nos mantos do irreal.

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