Archive for janeiro 2013

[Promo] Dimensões.BR - Volume II


Estou começando hoje meu primeiro sorteio no blog. O livro sorteado será o livro Dimensões.BR - Volume II, da editora Andross. O livro traz diversos contos de autores nacionais, vários iniciantes e outros já mais experientes, sob a organização do Fernando Heinrich. Dois dos meus contos produzidos durante o ano passado estão presentes no livro, ambos fantásticos e com alguma relação à Amazônia.

Sinopse: Criaturas lendárias, histórias mitológicas, seres fantásticos, contos folclóricos. Tudo isso numa terra insólita, onde o possível e o impossível se mesclam numa amálgama de magia. Nesse lugar, sereia é iara, e o sétimo filho se torna lobisomem. Desde Cabral – e, com certeza, também antes dele -, as histórias sobrenaturais mais incríveis tiveram como cenário esta terra, que hoje chamamos de Brasil.

Para participar do sorteio, apenas logue no seu facebook ou no e-mail abaixo. Depois de logar, você deve ganhar as entries curtindo as páginas do Un Café à Clichy e d'O Epitáfio no Facebook. Boa sorte a todos!

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Ovelhas Negras


Abaixo está um excerto do conto "Mas apenas e antigamente guirlandas sobre o poço", do livro Ovelhas Negras (Caio Fernando Abreu). Posto este pedaço do conto hoje por tê-lo lido ontem e alguns fatos passados terem ficado sobrevoando na minha cabeça. Além disso, acho que é uma das partes mais belas do livro e que pode servir como estímulo para o lerem.

"... eu matarei as borboletas e cuspirei nas folhas amareladas dos plátanos e afastarei você com o gesto mais duro que conseguir e direi duramente que seu amor não me toca nem comove e que sua precisão de mim não passa de fome e que você me devoraria como eu devoraria você ah seu ousássemos."

"Ele me olhava triste. Eu não suportava seu olhar triste a lembrar-me das vezes todas que o tinha procurado inutilmente pelas ruas sem encontrá-lo. Agora que o encontrava já não o procurava. E um encontro sem procura era tão inútil quanto uma procura sem encontro."

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Natal Fantástico


Título: Natal Fantástico
Organizador: Ademir Pascale & Gian Danton
Autores: Andrea Carvalho, Ben Green, Danny Marks, Edileuza Bezerra de Lima, Edweine Loureiro, Francelise Márcia Rompkovski, Gian Danton, João Manuel da Silva Rogaciano, Miguel Carqueija, Priscila Boltão, Reinaldo Yamauchi
Editora: Infinitum Libris
Ano: 2012
Número de Páginas: 101

            Quando chegada a época de Natal, é impossível manter a vida num ritmo normal nas grandes cidades do Ocidente. Dum lado, algumas pessoas se deixam inebriar pelas compras, trocas de presentes, sentimentos quase caridosos e a televisão se enche de filmes com bastante neve e que terminam com todos felizes, aconchegados diante uma lareira acesa. Do outro, rejeitando o motivo pelo que fazer, enchem-se de críticas ao período que passamos, todos com justificativas aceitáveis, mas que pouco se tornam úteis ou aproveitam ao longo do ano vindouro. Seja lá qual a situação, somos afetados pelo corpo espiritual, quase maciço, da época natalina.
            Isso se reflete não apenas no dia-a-dia, nos shoppings repletos de gente andando para todos os lados desesperamente à procura do presente ideal. Muito da mágica (ou da realidade) do Natal adentra a literatura e o cinema. E, ainda que muitos bradem veementemente sobre o carácter clichê das obras artísticas relacionadas ao Natal, elas continuam vindo todo ano. Particularmente, acredito que a arte é feita de absorção e modificação de tudo que recebemos, e nada é puramente original. Ainda mais, sempre os autores novos acrescentam pequenas coisas, às vezes com habilidade e outras de forma desajeitada, sempre deixando sua marca.
            Dentre as obras mais célebres com a temática natalina, há um conto do inglês Charles Dickens (1812-1870) de nome Um Conto de Natal (original: A Christimas Carol). Tendo como objetivo homenagear um dos contos mais conhecidos do autor inglês, os dois organizadores de Natal Fantástico trabalharam juntos e organizaram esta antologia de contos fantásticos que deveriam, obviamente, adotar a temática natalina. O livro foi publicado pela editora Infinitum Libris e segue o formato de e-book. Desta forma, 10 autores e Gian Danton apresentam seus contos natalinos, bastante diversos dentro do que poderia acontecer no natal. Alguns recheados das críticas que todos nós gostaríamos de fazer hora ou outra, outros mais leves, mas nem por isso menos interessantes.
            O conto que dá início à obra, O Natal de Lúcifer (Edweine Loureiro), traz um conflito dentro do que chamarei aqui, por falta de nome melhor, mitologia cristã. Lúcifer, condenado à humilhação eterna por ser um dos peões nos planos de Deus, demonstra continuamente seu desprezo ainda mais intenso no dia do nascimento de Jesus. Outro conto também tem como base a mitologia cristã. O conto “Se acreditares!” de João Rogaciano, no qual um menino que “a sua idade não ocuparia todos os dedos das suas duas mãos” anda desanimado pelas ruas da cidade grande, esfaimado e sem ninguém para lhe dar apoio; apenas para receber a ajuda de um desconhecido com poderes extraordinários. O conto adquire uma atmofesra quase doce, apesar dos contratempos apresentados ao personagem principal.
            Bem diferente de como a príncipio imaginei, pouco foi aproveitado do cristianismo para a confecção dos contos (ao menos dentre aqueles aceitos pelos organizadores durante o processo de seleção). Os outros contos se aproveitaram bastante d’outras ideias, sendo que achei originalíssima e muito me agradou a ideia de Andrea Carvalho no conto “O menino que vê a verdade”. Neste conto de terror, o Natal traz consigo criaturas horrendas que se alimentam das almas das crianças. Pessoalmente, acreditei que essas criaturas tivessem algo similar às fadas de Changeling – o Sonhar, ou que aparecem em Crônicas de Spiderwick.
            Outro conto que traz novas perspectivas para os contos natalinos é o de Miguel Carqueija, de título “Sinos de Natal”. O conto envolve o reencontro de mãe e filho, depois que esse ficou preso por anos, em dia de natal. É um conto comovente – não sei se apenas para mim, que sou bastante suscetível a enredos do mesmo tipo. O melhor: se passa num futuro no qual outros locais foram povoados pelos seres humanos. Apesar das minhas considerações passadas sobre a ficção espacial ter de ser mais realista, não acho que seja o caso, já que o futuro espacial é utilizado como cenário para a trama verdadeira. Ainda que tenha achado o conto interessante, NÃO o considero como literatura fantástica.
            Na minha noção de literatura fantástica, o personagem e/ou o leitor deve ficar com a pulga atrás da orelha sobre a possibilidade daquilo ser ou não real, como admissível no mundo que o cerca. Qualquer coisa além disso parte para o terreno do maravilhoso, e não do fantástico. O conto de Miguel Carqueija, segundo minha noção de classificação, se encaixaria idealmente em ficção espacial e não em fantasia – e não é por isso que deixa de ser aprazível.
            Dentro desta concepção que apresentei, dois outros contos me deixaram contrariado quanto ao encaixe na proposta de fantasia: Canção de Natal, do autor-organizador Gian Danton; e Um conto sobre Encanto, de Edileuza Lima. A existência de um final onde tudo o que ocorreu foi sonho quebra a existência da fantasia no enredo. Discuti com algumas pessoas sobre o assunto nos últimos dias, e para elas a fantasia permaneceu durante todos os acontecimentos fantásticos durante o sonho e do início ao meio do conto, caracterizando-o assim como fantasia. Minha opinião, porém, permaneceu. O encanto fantástico se quebra junto com o sono, e como caracterizados uma obra como um todo e não por parcelas dela, não caracterizo um conto onde a fantasia é restrita aos sonhos como fantástico (exceto em casos como o de Changeling – o Sonhar). Ainda assim, o conto de Gian Danton consegue deixar dúvidas sobre o que realmente ocorreu ao personagem principal, mantendo os mais básicos aspectos da literatura fantástica e entrando como fantasia ao meu ver. O conto de Edileuza Lima, no entanto, parece-me mais surreal que fantástico.
            Em “O Homem que queria destruir o Natal”, Danny Marks apresenta a opinião que é amplamente difundida nas redes sociais durante a época natalina. Todos, neste período, falam que todos (estranho isso, né? Todos falarem de todos) retêm o bom espírito natalino apenas durante essa época, e que o mais coerente era manter durante o ano todo. O personagem espalha sua Verdade e, ao se deparar com a impossibilidade de mudar o mundo, muda de direção. A ideia foi interessante e bem construída, mas em minha opinião peca por expor tão claramente os conceitos que o autor visa pregar – e, por isso, não completamente de meu agrado.
            Uma cena que ficou grudada em minha cabeça após ler o livro foi a da pequena Brianna Wilcox sorrindo ao pé da escada, de forma maligna, acenando para o irmão que era levado embora para sempre de casa. Essa cena pertence ao conto “O Natal dos Gêmeos”, de Priscila Boltão – e consta entre as cenas mais marcantes do livro, junto com o crânio sorrindo assustadoramente no término do conto “Tomás”, de Francelise Rompkovski.
            Como não poderia faltar, os dois contos que restam trata sobre espíritos que de alguma forma surgem na vida dos personagens. Em “As Moiras”, Ben Green retrata um acidente de carro que muda a vida do personagem, trazendo-o à realidade que lhe é mais gentil e alegre, após uma vida cristalizada na ganância. Em “Desejo Realizado”, um homem ganancioso à beira da morte ganha mais uma chance de se redimir e, ao render-se novamente ao pecado que lhe é tão característico, sofre mais uma punição.
            Apesar de ter falado bastante, o que se deve saber é que a obra merece ser lida. Os contistas selecionados são de fato muito bons e têm a possibilidade de ainda surgirem com mais impacto na literatura nacional – se a valorizarmos mais. A leitura é divertida e merece uma bela xícara de café preto, bem forte, para acompanhá-la. A leitura é recomendada para qualquer pessoa que curta fantasia. Pode-se conseguir o e-book a partir da página do facebook da editora Infinitum Libris, na loja virtual deles. O livro está sendo distribuído gratuitamente.

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Ontem



Ontem não me entendeste quando falaste que tenho problemas em admitir que ainda desejo estar com ele, apenas por eu dizer que posso querer no futuro. Disseste que quero e apenas não admito. Como usualmente, estás errada. Não o quero agora e talvez nunca queira, mas é possível que semana que vem eu esteja diferente e ele venha a me saciar. Por isso o mantenho perto. Quanto a ti, não quero machucar tua mente infantiloide. Errada, errada, sempre errada. É essa falta de percepção que vai nos afastar, com toda a certeza. Já nem me dou ao trabalho de corrigir-te. Ontem um mero ‘tá’ foi tudo o que mereceste pela inabilidade em perceber, pela insensibilidade.

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Pesquisas e suas justificativas



            Existem duas situações nas quais eu penso no que escreverei a seguir. Em ambas nunca tive a cara dura de dizer em voz alta ou escrever, quebrando assim os rituais estabelecidos. A primeira destas ocasiões é quando tenho que escrever algum projeto de pesquisa sobre um tema que acho super interessante, tipo as alterações do investimento energético de somático pra reprodutivo ao longo de um ciclo de vida, e caio naquele maldito tópico “Justificativa”. A segunda é quando estou apresentando uma pesquisa e o avaliador/professor vem com a maldita pergunta:
            - E por que tu fizeste isso?
            Nessas horas tenho a vontade única de abrir um largo sorriso e falar:
            - Porque eu acho isso muito foda! Sério, cara, quem não acharia legal saber que uma população começa a investir mais nas gônadas a partir duma idade e para de investir em crescimento? Ou que tá tudo organizadinho morfologicamente na natureza por causa de séculos de adaptação? Sério, se você não acha que saber dessas coisas e ficar vendo exemplos na natureza não é muito legal, você é bem louco.
            A realidade é que um cientista de verdade faz um trabalho porque ama fazer aquilo. Se não gosta da palavra amar, pode falar que tem um impulso (seja lá de onde ele surja) e que por isso precisa saber, pesquisar, conhecer, ler, discutir, criar. O que quero falar é simples, e nem precisava de mais de um parágrafo pra isso: um cientista de verdade não tem que fazer suas pesquisas por causa da utilidade pública do conhecimento que tanto lhe desperta interesse e indagações; e sim pelo fato singular de que ele quer conhecer mais, ampliar a gama de conhecimento do mundo e entender os processos naturais (hoje em dia sociais, também, pois a ciência não é mais restrita ao que é natural) que lhe cercam.
            Pesquisamos e lemos porque ainda conservamos a curiosidade desde crianças, seja por zoologia, cardiologia, literatura inglesa, sociologia, matemática aplicada. Em suma, é isso que nos (me) move: curiosidade.
            E nem adianta me dizer que é necessário contar essas histórias nas nossas justificativas para que possamos receber fundos e continuarmos a pesquisa. Eu sei disso. Você sabe. Todos sabemos, e por isso fazemos. Mas acho que é fundamental conservarmos o foco do porquê estudamos, senão vamos apenas seguir uma série de metodologias instauradas e cristalizadas, perdendo toda a criatividade e curiosidade, gerando relatórios e artigos com pressa e simplesmente por ter que fazê-los. O pior de tudo: perdendo todo o prazer que as pequenas e grandes descobertas um dia nos proporcionou, levando-nos a começar este caminho.

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