Archive for abril 2013

Cópia (in)fiel




            Em 2010 foi lançado um filme chamado Cópia Fiel (Copie Conforme, 2010), apresentando uma longa e bem fundamentada discussão artístico-filosófica sobre a validade da arte como Original ou como Cópia, utilizando como cenário um casal que ao longo do enredo passa a nos confundir com a veracidade da existência de um relacionamento prévio entre eles. Partindo de diversos ângulos, você passa a se perguntar ‘o que é original?’, ‘o que é cópia?’ e ‘como se distinguir as duas?’. Mas o mais importante é: ‘o valor da obra está na originalidade dela, tão ensimesmada, ou na perspectiva daquele que a contempla?’. Partindo daí, você já deve estar se perguntando ‘E o que diabos isso tem a ver com Jogos Vorazes?!’
            A relação é indiscutível. Toda vez que best-sellers surgem, começam as discussões intermináveis sobre plágios, cópias e falta de originalidade. E, como de praxe, comentários surgiram sobre a ligação da série Hunger Games (Suzanne Collins) e de uma obra japonesa, apenas um pouco mais antiga, denominada Battle Royale (Koushun Takami, 1999). A autora de Jogos Vorazes, em entrevistas que podem ser vistas no Youtube, inspirou-se na confecção da obra em outras histórias; tais como mitos gregos e história romana, além de um exímio entendimento poético quanto ao poder de uma nação sobre a população. De qualquer forma, a similaridade entre os dois livros surge no background: personagens ainda não em idade adulta são forçados a matar uns aos outros, até que sobre apenas um, num jogo promovido por um Governo desgovernado em suas vontades tiranas; em certo ano, o personagem principal participa do jogo, e em certo ponto vence ao mesmo tempo em que engana àqueles que promovem o jogo, causando uma abertura para uma sequência.
            Em linhas gerais, as semelhanças são interrompidas aí, ainda que semelhanças entre personagens ainda possam ser observadas ao longo das tramas, caso comparadas intimamente. Enquanto Suzanne expõe a destruição massiva da sensibilidade que têm ocorrido na sociedade por causa das mídias e de quem as controla (representadas na trama por um programa de televisão anual, que angaria investimentos e apostas, num reality show dantesco) e a submissão dos mais fracos em frente a um reino dito superior; Takami vai ao fundo da alma humana, priorizando o desespero e a decadência de um grupo de amigos que se veem repentinamente numa situação desesperadora, expondo profundezas demoníacas que existem na alma de um ou de outro. Enquanto Ruth te faz chorar com sua delicadeza e força infante, o sangue espirra através do livro com a foice de Mitsuko Sohma. À medida que a beleza da capital é vivenciada para todos os cantos com cores vivas e felicidade, cresce o asco que os leitores têm do governo oriental. Os dois livros, incontestavelmente, possuem alma e profundidade diferentes (ainda que o pressuposto seja similar); e podem te sensibilizar para fatos diferentes e de maneiras desiguais.
            Pessoalmente, prefiro ler cada uma das obras e vivenciar ficticiamente cada uma das experiências, deixando que a literatura me leve para tais mundos e amplie minha visão. E para você, o que é realmente importante? Sensibilizar-te com um espectro literário maior, ou acusar de plágios e cópias (in)fiéis?

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