Em 2010 foi lançado um
filme chamado Cópia Fiel (Copie Conforme,
2010), apresentando uma longa e bem fundamentada discussão artístico-filosófica
sobre a validade da arte como Original ou como Cópia, utilizando como cenário
um casal que ao longo do enredo passa a nos confundir com a veracidade da
existência de um relacionamento prévio entre eles. Partindo de diversos
ângulos, você passa a se perguntar ‘o que é original?’, ‘o que é cópia?’ e
‘como se distinguir as duas?’. Mas o mais importante é: ‘o valor da obra está
na originalidade dela, tão ensimesmada, ou na perspectiva daquele que a
contempla?’. Partindo daí, você já deve estar se perguntando ‘E o que diabos
isso tem a ver com Jogos Vorazes?!’
A relação é indiscutível. Toda vez que best-sellers
surgem, começam as discussões intermináveis sobre plágios, cópias e falta de
originalidade. E, como de praxe, comentários surgiram sobre a ligação da série Hunger Games (Suzanne Collins) e de
uma obra japonesa, apenas um pouco mais antiga, denominada Battle Royale (Koushun Takami, 1999). A autora de Jogos Vorazes, em
entrevistas que podem ser vistas no Youtube, inspirou-se na confecção da obra
em outras histórias; tais como mitos gregos e história romana, além de um
exímio entendimento poético quanto ao poder de uma nação sobre a população. De
qualquer forma, a similaridade entre os dois livros surge no background: personagens ainda não em
idade adulta são forçados a matar uns aos outros, até que sobre apenas um, num
jogo promovido por um Governo desgovernado em suas vontades tiranas; em certo
ano, o personagem principal participa do jogo, e em certo ponto vence ao mesmo
tempo em que engana àqueles que promovem o jogo, causando uma abertura para uma
sequência.
Em linhas gerais, as semelhanças são interrompidas aí,
ainda que semelhanças entre personagens ainda possam ser observadas ao longo
das tramas, caso comparadas intimamente. Enquanto Suzanne expõe a destruição
massiva da sensibilidade que têm ocorrido na sociedade por causa das mídias e
de quem as controla (representadas na trama por um programa de televisão anual,
que angaria investimentos e apostas, num reality
show dantesco) e a submissão dos mais fracos em frente a um reino dito
superior; Takami vai ao fundo da alma humana, priorizando o desespero e a decadência
de um grupo de amigos que se veem repentinamente numa situação desesperadora,
expondo profundezas demoníacas que existem na alma de um ou de outro. Enquanto
Ruth te faz chorar com sua delicadeza e força infante, o sangue espirra através
do livro com a foice de Mitsuko Sohma. À medida que a beleza da capital é
vivenciada para todos os cantos com cores vivas e felicidade, cresce o asco que
os leitores têm do governo oriental. Os dois livros, incontestavelmente,
possuem alma e profundidade diferentes (ainda que o pressuposto seja similar);
e podem te sensibilizar para fatos diferentes e de maneiras desiguais.
Pessoalmente, prefiro ler cada uma das obras e vivenciar
ficticiamente cada uma das experiências, deixando que a literatura me leve para
tais mundos e amplie minha visão. E para você, o que é realmente importante?
Sensibilizar-te com um espectro literário maior, ou acusar de plágios e cópias
(in)fiéis?
Bem, sensibilizar com um espectro literário maior é mais importante, mas, diga-se de passagem, acusar de plágios é bem divertido >.<
ResponderExcluirBem, pra mim plágio é uma cópia total, ou praticamente total. Então, não vejo inspiração como pecado nenhum, muito menos no meio literário. O escritor que não teve sua obra inspirada em outra que atire a primeira pedra. Porque não é possível, já que, pra ser escritor, é preciso ser leitor, e, assim sendo, você vai ter uma bagagem literária que usará até inconcientemente, num livro ou em qualquer outra coisa da vida.
ResponderExcluirNo caso específico que citou não posso criticar positiva ou negativamente porque não li nehum dos livros. Mas, aparentemente, não acho que seja realmente plágio, mesmo porque, como você disse, a alma de cada história é diferente - claro, se o autor for uma autêntico escritor.