Título: O Amor nos Tempos do Cólera
Autor: Gabriel García Márquez
Editora: Record
Nº de Páginas: 429
O Amor nos Tempos do Cólera é um convite
para pensar na vida e, sumariamente, no amor; não no amor como uma parte necessária do viver humano, mas no amor como o início e o fim de toda a
estrada.
Neste
livro, Gabriel García Márquez explora a vida de um triângulo amoroso, e nem por
ser uma fórmula que hoje em dia se popularizou diante uma superexploração pelo
mercado literário, torna-se menos comovente. No livro, Gabo conta as minúcias
da vida de Fermina Daza desde seus
tempos de escola, quando trocava cartas com um rapaz (Florentino Ariza) que lhe esperava todos os dias em seu caminho e
compartilhava seus sonhos com sua tia. Ao ser descoberto, o jovem casal é
separado pela força do pai de Fermina, que a leva para uma grande viagem pelo
país, mas que eles contornam pela constante troca de cartas.
Mas a
ilusão que os segurou junto feneceu quando Fermina voltou para a cidade em que
se conheceram e a moça acabou por se envolver com um influente médico local, Juvenal Urbino, do qual ficou do lado
por toda a vida adulta até a velhice, quando a morte do doutor os separou; e,
Florentino Ariza, que nunca desaparecera do cenário da cidade, reapareceu para
lhe declarar seu amor por toda a vida. E é no entremear destes fatos que Gabo
vai tecendo a vida de personagens maravilhosos (e não apenas os centrais),
mostrando suas fraquezas e triunfos, e dá voltas nos detalhes mais
impressionantes que envolvem a vida da cidade.
Fugindo
de uma lógica unidirecional, o livro narra diversos caminhos que os três
personagens principais percorreram ao longo de sua vida, voltando diversas
vezes ao passado bem no meio de uma cena para dar uma atenção mais detalhada a
algum outro personagem ou a alguma pequena faceta que permaneceria inexplorada
numa obra menos preocupada com a beleza final. Assim, em recortes de panos que
parecem tão diferentes, aos poucos vamos formando o quadro completo da vida e
dos laços que unem os personagens.
Para tal, o autor se apoia em constantes digressões
para montar um realismo fantástico que quase te faz esquecer as causas
primárias das ações, de tão envolventes que são suas interpretações dos mais
singelos atos do cotidiano. As interpretações fogem do commonplace no qual os livros têm se apoiado indolentemente nos
dias de hoje.
Gabo
é um mestre em capturar a essência das pequenas experiências do cotidiano que
os aficionados por literatura fantástica por vezes deixam de enxergar. Com
grande precisão, o autor segura o cotidiano como se fosse uma flor e
delicadamente expõe o cerne mágico que ela contém, retirando pétala por pétala,
e mostrando um mundo quase real, mas que nunca seria visto desta forma se não
fosse a visão única de García Márquez.