À Saah Tavares, que me introduziu às obras de Henry Miller.
"Com exceção de Renaud, que se sentava ao mesmo lado, os outros desvaneceram-se de minha memória; pertenciam àquela categoria de indivíduos descoloridos que formam o mundo dos engenheiros, arquitetos, dentistas, farmacêuticos, professores, etc. Nada os distinguia dos torrões de terra sobre os quais esfregariam as botas mais tarde. Eram zeros em todo o sentido da palavra, cifras que formam o núcleo de uma cidadania respeitável e lamentável. Comiam de cabeça baixa e eram sempre os primeiros a reclamar um segundo prato. Dormiam pesadamente e nunca se queixavam; não eram alegres nem miseráveis. Os indiferentes que Dante colocou no vestíbulo do Inferno. A alta sociedade."
"Hoje sinto orgulho em dizer que sou inumano, que não pertenço a homens e governos, que nada tenho a ver com crenças e princípios. Nada tenho a ver com a maquinaria rangente da humanidade - eu pertenço à Terra! Digo isso deitado em meu travesseiro e posso sentir os chifres nascendo em minhas têmporas. Posso ver ao redor de mim todos aqueles meus malucos antepassados dançando em roda da cama, consolando-me, estimulando-me, vergastando-me com suas línguas de serpente, arreganhando os dentes e olhando-me de soslaio com seus crânios esquivos. Sou inumano!"
Todos somos inumanos!
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