Autor:
Bernard Cornwell
Editora:
Record
Nº
de Páginas: 529
Excalibur é, sobretudo, uma história
sobre valores morais e lealdade.
Quando estudei, por poucos meses,
Direito no início de 2008, li capítulos de um livro de introdução às ciências
jurídicas. Em meio ao primeiro capítulo, li algo interessante, que era mais ou
menos assim: “... o direito é responsável pela mediação das relações humanas,
do início ao fim”. Mas, antes que leis e normas estivessem bem estruturadas, juramentos e valores morais eram responsáveis
por tal intercessão em conflitos. E, muito do que ocorre no livro é produto de
um embate dos juramentos e necessidades de Artur e de muitos outros homens
importantes da época (do mito).
Incerto se Artur realmente existiu
ou se não passa de um mito, Bernard
Cornwell constrói uma intrincada trama baseada em alguns fatos históricos
plausíveis e documentados, demonstrando amplo conhecimento sobre a história da
Inglaterra. O romance de ficção histórica parte da visão do Lorde Derfel
Cadarn, um dos únicos sobrevivente da época Arturiana, que agora vive servindo
São Sansum e narra a história de Artur para Igraine, mulher de Brochavel.
Nos dois primeiros livros da
trilogia As Crônicas de Artur, Derfel passa de lanceiro para Lorde, e se torna
um dos homens mais importantes da Dumnonia, reino de Modred. Em Excalibur,
Derfel relata em pormenores o que houve depois da grande traição de Guinevere e
caracteriza um Artur humilhado e revoltado com o que tinha acontecido, e
extremamente machucado com o que ocorreu no final do segundo livro (O Inimigo
de Deus). Ao longo do livro, aparece também o grande conflito de Artur quanto a
fazer Mordred, um rapaz dissimulado e maligno, rei. Ao passo que Artur havia
feito um juramento para o antigo Grande Rei Uther Pendragon, o garoto se mostra
incapaz de governar adequadamente – e a saída que Artur encontra é torná-lo
rei, mas ele próprio administrar Dumnonia com outros homens de confiança.
Aprisionado nesta vida que nunca
desejou, pois tudo que desejava era uma vida calma com Guinevere, Artur também
precisa enfrentar o rápido avanço do cristianismo e a decadência da antiga
religião da Bretanha, o druidismo. Merlin e Nimue (também conhecida como
Viviane, a Fada) tentam restaurar os poderes dos deuses antigos num grande
ritual, incompleto pelo amor de Merlin à família de Artur. Ao longo dos livros,
o autor não deixa claro se a magia provinda dos druidas é real ou não, podendo
muitas vezes ter sido apenas truques ou coincidências. Mas, com o passar dos
capítulos deste último livro, poderes que deixam a balança pensa para a
existência da magia aparecem, dando um ar surreal para o livro. Em muitos
casos, no entanto, Merlin deixa claro que seus feitiços são truques, e que
precisa que as pessoas acreditem nele. Este cenário real/irreal é absolutamente
bem delineado e perspicaz; altamente recomendado para os fãs de literatura
fantástica, em especial àqueles que gostam de Harry Potter, Game of Thrones
e outras sagas com fantasia.
Artur não é exatamente contra o
druidismo, tampouco contra o cristianismo. Ele apenas quer fazer o melhor para
seu povo, independentemente da religião que os indivíduos desejam seguir.
Porém, nenhum dos líderes ou do povo o vê assim, e sim como inimigo das
religiões. Suas batalhas para proteger as fronteiras dos saxões se tornam
ínfimas quando a população passa a enxergar pelo viés religioso. É interessante
notar como essa porção – além de muitas outras - do enredo adquire caráter
atemporal, já que ainda hoje estamos presos nesse conflito entre religiões (ou
falta de), que com toda a certeza não deveria ser o tema central de nossas
discussões e movimentações.
Além do problema religioso no reino,
os saxões começam a invadir a fronteira para ampliar seus territórios. Derfel,
a princípio desconectado de Artur, tenta encontrá-lo ao norte, mas acaba
ficando preso no Monte Baddon pelos saxões. A batalha é bem descrita e, na
minha opinião, a melhor de toda a série. Entre tudo o que acontece, algumas
ações são particularmente importantes: a tática de Guinevere, que fez Derfel
levantar o estandarte da princesa e criou uma relação inexistente entre os
dois; o encontro do pai de Derfel (um dos reis saxões) com a família do filho,
e sua morte.
E, quando os saxões são finalmente
derrotados e pensamos que tudo vai dar certo na vida de Artur, Guinevere,
Derfel e da princesa Ceinwyn, esta última adoece. Derfel descobre que existe
uma trama de Nimue por trás, que inconformada com o feitiço falho de Merlin,
tenta adquirir todo seu conhecimento e finalizar a magia. Ela, indiferente à
antiga amizade de Derfel, trava uma última luta contra o ex-lanceiro em prol do
retorno dos deuses da antiga religião. Em meio à fuga desesperada, Derfel cai
na armadilha de Mordred para retomar todo o poder em Dumnonia. Cercado por dois
exércitos, um de loucos e outro de renegados, Derfel e Artur (além de Sagramor,
um dos aliados mais leais dos dois) esgotam suas forças numa última batalha.
Tendo este complexo enredo, e ótimas
descrições de batalhas, Bernard Cornwell apresenta um mundo que já não sabemos
se foi ou não real, e confunde um pouco aqueles que possuem a tendência a se
perder nos mantos do irreal.
Estou lendo as Brumas de Avalon \o/ assim que terminar, lerei este aí.
ResponderExcluirÉ incrível a capacidade do Bernard Cornwell em nos transportar diretamente para o campo de batalha e nos fazer viver as emoções das guerras. Ele consegue fazer isso em praticamente todos os livros dele e esse não é nenhuma exceção.
ResponderExcluirAbração!
http://desbravandolivros.blogspot.com.br/2013/02/resenha-o-rei-do-inverno-bernard.html