[Cinema] Vidas ao Vento


Sem dúvidas, Hayao Miyazaki é um dos grandes artistas contemporâneos da animação, mostrando sua dedicação incansável em suas obras. Como um dos fundadores do Studio Ghibli, que produziu nas mais de duas décadas de existência cerca de vintes filmes, alcançou notoriedade não só no Japão, mas também no mundo inteiro – tendo, inclusive, recebido o Oscar de Melhor Animação por A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no Kamikakushi, 2001) e indicado ao mesmo prêmio por O Castelo Animado (Hauru no Ugoku Shiro, 2004).
Em seu filme mais recente, Hayao continua mostrando uma técnica primorosa na estética, sem deixá-la se tornar artigo central único na obra. Ao contrário, Hayao se mostra cada vez mais um diretor preocupado com o enredo da sua arte. Aproxima-se, assim, da construção mais complexa do seu personagem central e das relações deste com o mundo. Em Vidas ao Vento (The Wind Rises, 2013), o diretor mostra com fluidez a história de Jiro Horikoshi em diversas situações históricas, como a Segunda Guerra Mundial, a Grande Depressão e o Grande Terremoto de Kanto (1923).
O filme não alcança um ápice de emoção, e sim segue uma linha energética calma, que se assemelha a ver quadros da vida de uma pessoa – fase por fase. Assim, conhecemos não só as bases morais do personagem principal, mas os fatos mais antigos que o enlaçam por vezes com Naoko Satomi, bem como sua paixão intensa por aviação que delineia toda a sua vida real (e ilusória).
Digo ilusória porque o personagem se perde por vezes na imaginação, vendo os aviões que estão desenhados a sua frente ganharem cor e vida, e logo saírem do papel para tomarem o ar. Mas não só isso – em sonhos (ou não), ele acompanha a vida e o caminhar das ideias de um grande engenheiro de aviões da época. De início, o homem lhe diz que é o seu sonho, mas, no final do filme, em uma cena que por vezes pode passar despercebida, o homem toca no assunto novamente e diz que o mundo é deles.
Para mim, é um filme que, ao menos superficialmente, se afasta da linguagem fantástica que está no sangue da obra de Hayao Miyazaki. Mas para mim não fica claro se os sonhos de Jiro são apenas ilusões ou se são algo além. Por si, este fato lá arrasta o filme para o lado da fantasia, que por si é a capacidade de fazer o personagem/espectador duvidarem da realidade dos fatos. Assim, o diretor insere a fantasia que permeia toda sua obra de forma mais sutil e artística, misturando fatos reais com uma imaginação fértil e com a técnica absurdamente cuidadosa e bela que trabalhou por toda a vida.
Enxergamos também o que pode ser a paixão do próprio diretor, cujo pai trabalhou com aviões e que se mostra consistentemente colocando apaixonados por aviões em seus filmes (outro exemplo disto é o menino que brinca com um avião em Meu Amigo Totoro). Além disso, a riqueza de detalhes em personagens secundários ou de fundo também encanta: tanto a personalidade forte da irmã de Juro, como as diversas personalidades que transparecem em pessoas comuns, e sem participação, num restaurante, unindo-se ao todo e tornando a experiência 

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