Título:
A garota da casa grande
Autor:
Amanda Marchi
Editora:
Novo Século
Ano:
2013
Número
de Páginas: 111
A
busca por representatividade na arte tem sido uma das buscas de grupos
minoritários, como os LGBT. A partir de um reconhecimento dos anseios e momentos
que estruturam suas vidas, artistas têm trazido tudo isso à tona na literatura,
bem como nas artes cênicas e visuais. Na literatura nacional, apesar de já ter
um movimento próprio cristalizado na obra de Caio Fernando Abreu, dentre
outros, a literatura queer ganha novo
fôlego com autores da nova geração. Estes autores parecem contar outras
histórias, já construídas num mundo diferente daquele que os antigos autores
vivenciaram e, por esta vivência diferenciada num novo século, trazem novos
matizes para a literatura.
É
neste contexto que surge A garota da
casa grande, livro de estreia da autora brasiliense Amanda Marchi. No livro, Georgia, uma garota da cidade grande de 17
anos, vai para a casa de sua avó no interior, onde costumeiramente passa suas
férias. Os dias se arrastam monotonamente, até que surge Alice, uma garota que
mora em uma grande casa, não-na-frente-mas-na-diagonal.
Georgia é instantaneamente atraída para Alice e, aos poucos, elas criam um
envolvimento delicado que perpassa a dificuldade de autoaceitação de Alice,
instigada pela força da garota da cidade
grande.
As
suas vivências são narradas de forma delicada e com uma riqueza de detalhes
interessantíssima, mas que em nenhum momento beiram a monotonia. Em dois
momentos de clímax, para onde todas as ações anteriores parecem convergir, Georgia
e Alice passam por momentos que refletem problemas dramáticos mais atuais e que
divergem do que já foi representado na literatura queer mais em voga. Esses momentos chegam a um drama mais comum,
onde a sexualidade das personagens não se torna tema central, e sim
características das mesmas, trazendo dramas pessoais à tona.
- O que nós vamos fazer? – perguntei, quase como que em um suplício pela resposta. Meu coração batia rápido, finalmente o medo tomando conta de minhas ações. – Alice!
- Nós continuamos com a vida.
- Para onde?
- O que nós vamos fazer? – perguntei, quase como que em um suplício pela resposta. Meu coração batia rápido, finalmente o medo tomando conta de minhas ações. – Alice!
- Nós continuamos com a vida.
- Para onde?
Por
outro lado, a autora não deixa de retratar como a estrutura patriarcal e
heteronormativa predomina e molda o pensamento das pessoas, permitindo que o
dia-a-dia das minorias não seja pleno e que preconceitos sejam corroborados.
O
livro possui capa e formatação adequadas. No entanto, o trabalho de revisão
parece ter sido fraco, deixando passar alguns erros gramaticais e de digitação,
revelando uma falta de atenção das empresas do ramo editorial para com os novos
escritores. Ainda assim, a leitura é válida e extremamente agradável.