Archive for março 2015

Eles Sempre Voltam - Parte IV

Por um segundo, todos olharam paralisados para o monstro que invadira a casa. Ninguém sabia o que fazer.

Mas logo o lobisomem deu dois passos à frente e, com uma patada brusca, jogou Miranda para o lado. Isso os acordou instantaneamente e cada um foi para o seu lado. O lupino fez menção de ir em direção de Miranda, mas Duque se jogou contra o corpo monstruoso do invasor para contê-lo. Os dois lutaram por poucos segundos - o lobisomem segurou firmemente Duque com um dos braços e o ergueu até que seus olhos se encontraram.

Duque encarou a cena como se fosse a sua última. Estava hipnotizado por aqueles olhos. Mesmo que a aparência fosse completamente diferente dos olhos de qualquer ser humano, eles carregavam um quê de humanidade. Porém, naquele instante, a raiva estava estampada no olhar quase-humano e ela fazia o horror ecoar por todo o corpo de Duque.

Repentinamente, o lobisomem rugiu e jogou o homem contra a parede. Sentiu uma dor aguda percorrer as costas e sua visão ficar turva. À sua frente, conseguiu enxergar o contorno de Miranda através da escuridão. O braço dela estava erguido na direção do lobisomem, mas Duque não viu a faca que ela segurava cravada no abdômen da criatura. Levantou-se para ajudá-la, mas os efeitos do baque ainda se faziam presentes, e ele cambaleou e caiu encostado na parede.

Furioso com o ataque repentino, o lobisomem abocanhou a cabeça de Miranda. Seus dentes perfuraram o rosto e o crânio da mulher. Ela ainda estava consciente quando os ossos do crânio começaram a ceder e a estalar sob a força descomunal das mandíbulas do lupino. Duque ouviu o grito abafado e breve da mulher, que mal começou e já findou, e se jogou contra a criatura para tentar afastá-la de Miranda. No entanto, o lobisomem era grande demais e sequer se moveu com os empurrões.

O sangue escorreu pelos dentes e pela boca do lobisomem, e caiu sobre o chão de alvenaria, misturando-se com a poeira até formar uma substância lamosa. Duque socou a criatura com toda a força que tinha, mas ela não lhe dava atenção. Após um estalo de consciência, estendeu a mão para a faca que Miranda usara contra o lupino, e a arrancou. Desferiu dois golpes no peito da criatura, e ela largou Miranda imediatamente, deixando seu corpo inerte cair sobre a substância pastosa que se formara.

Duque saltou para trás, mas o lobisomem o agarrou com as patas anteriores e o puxou em sua direção. Estava cara a cara com a criatura, tanto que conseguia sentir o bafo quente em seu rosto. Mais uma vez naquela noite teve a certeza de que sua cabeça estaria estraçalhada em segundos. Apertou os olhos e, antes de sentir os dentes lhe rasgarem a pele, dois tiros ecoaram na casa.

A criatura o largou no chão e tombou sem vida para o lado.

Juntou a coragem que lhe restava e se pôs de pé. Suas pernas tremiam de medo e demorou alguns segundos para que ele conseguisse se mover. Milton estava na entrada da cozinha, o revólver apontado na direção do lobisomem morto.

- Temos que sair daqui. Agora.

Os dois foram até o quarto onde teriam dormido aquela noite e recolheram seus pertences com rapidez. Jogaram tudo o que viram na mochila, Duque pegou seu facão e o prendeu no jeans, e voltaram para a cozinha. Duque se ajoelhou ao lado de Miranda – forçou os olhos até que pode observar o rosto irreconhecível, com vários buracos que atravessavam a cabeça amassada.

- Si-sinto muito. Espero que tu estejas num lugar melhor agora, junto com a tua família... – toda morte que presenciava lhe causava o mesmo incômodo, a mesma ânsia de sumir; mesmo já tendo visto dezenas de corpos, não ficava mais fácil para Duque aceitar o que acontecia ao mundo.

Enquanto Duque estava ajoelhado, despedindo-se, Milton reuniu em uma panela restos da janta e verduras que encontrou na cozinha. Empurrou a panela na mochila e, quando estava a fechando, um uivo atravessou a floresta. Duque se levantou e os dois saíram da casa.

Atravessaram o quintal de Miranda e entraram na mata. Milton seguia Duque, que estava alguns metros à frente. Milton não tinha noção do que iam fazer, mas sabia que não podiam parar de fugir; Duque, por outro lado, sabia exatamente o que fazer. Os lupinos conseguiam rastrear facilmente através do cheiro deles e certamente já estavam em seu rastro. Tinham que desaparecer.

A mata estava densa e eles avançavam lentamente. Com uma lanterna, Milton iluminava o caminho de Duque, enquanto este ia cortando os cipós e galhos que fechavam a passagem. A cada golpe, galhos caíam e folhas farfalhavam, invadindo o silêncio sepulcral da floresta. Não tinham como ir com mais velocidade, nem com menos barulho, e isso os deixava mais afoitos.

O outro lobisomem uivou mais uma vez.

- Ele tá chegando.

Cinco minutos se passaram e eles haviam andado pouco mais que 150 metros. Ainda estavam muito próximos da casa. Duque continuava a abrir caminho. Seu olhar exalava um misto de medo e obsessão. Ignorava completamente as gotas de suor que escorriam pelo seu rosto e continuava a cortar os galhos e folhas à frente. Estava tão absorto na tarefa, que nem ouviu a movimentação acima.

Com a mão direita, Milton levantou a arma em direção à copa das árvores e atirou. Uma, duas, três vezes, até que as balas acabaram e o gatilho clicou. As folhas acima de Milton farfalharam e ele ouviu um impacto atingir o chão atrás de si. Virou-se e viu a imensa lobanil, ainda maior do que o lobisomem que invadira a casa.

Ela se pôs nas quatro patas e, ainda assim, o encarava olhos nos olhos. Milton andava de costas, seguindo o barulho do facão que ressoava. Ela avançava lentamente em sua direção, deliciando-se com o terror que causava na sua presa. Milton tentou levantar o revólver, mas ela lhe deu uma patada na mão, desarmando-o e abrindo dois talhos no dorso de sua mão.

Continuou andando para trás, mas, estranhamente, parou de ouvir o barulho de Duque cortando os galhos. Por um instante, pensou que Duque tinha lhe deixado ali para servir de isca e ter mais tempo para fugir. Nem bem esse pensamento lhe assaltou, sentiu um puxão no braço.

- Respira! – Duque gritou.

A lobanil saltou sobre os dois, mas não conseguiu lhes alcançar a tempo. Eles tinham caído no rio e sumido na correnteza.

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Beijo gay em The Walking Dead

The Walking Dead é uma série que tem feito sucesso: apocalipse zumbi, bastante sangue, tripas e pessoas se matando.


Eis que alguns domingos atrás, a série The Walking Dead lançou um episódio que acabou causando desconforto em alguns dos seus fãs.


Isso. Depois de sangue, crianças psicopatas, partos que deram errado, crianças morrendo, pessoas se matando, o que causou incômodo em alguns dos fãs foi esse beijo.


Meu amigo, pessoas heterossexuais já têm todos os outros shows do planeta. E desculpe dizer, mas deve ter algo errado em você se depois de tanto sangue, isso é o que te incomoda.

Não vamos mais pedir licença. Estamos ocupando o nosso espaço: mulheres, negros, gays, lésbicas, pessoas trans. Estamos ocupando o nosso espaço e a arte e o entretenimento se refletirá nisso e ajudará nisso. O amanhã vai chegar, quer vocês queiram, quer não.

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Finn's Hotel


Finn’s Hotel não é um livro comum.
James Joyce, romancista e poeta irlandês, ao escrevê-lo, utilizou-se de técnicas literárias incomuns que tornam o livro pouco palatável e que, anos depois, foi aperfeiçoado na construção de Finnegans Wake. O método do autor parte de um fluxo de consciência, alusões literárias e livres associações, que acabam por desconstruir o método tradicional de contar histórias. Ele utiliza de inúmeros arcaísmos e neologismos, levando ao extremo a sensação de sonho pouco-entendível. No entanto, Finn’s Hotel possui uma linguagem relativamente comum quando comparada a Finnegans Wake.
O livro conta com 10 narrativas curtas (e a versão brasileira ainda consta com ilustrações interessantíssimas) escritos em 1923 e que são, para os estudiosos de James Joyce, uma importante conexão com suas obras seguintes.
Apesar de sua importância histórica para a literatura irlandesa e mundial, não recomendo o livro para qualquer pessoa que não tenha interesse em experimentar uma maneira diferente de se fazer literatura. Longe de querer passar por elitismos intelectuais, falo isso porque a maneira de James Joyce de construir sua história é confusa e requer bastante atenção e vontade de entende-lo. Simplesmente não vale o esforço se você não tiver um interesse real nisso.

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